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sábado, 17 de agosto de 2013

RESPOSTAS A PENTELHAÇÕES - Capítulo N+1 Por Olavo de Carvalho

RESPOSTAS A PENTELHAÇÕES - Capítulo N+1

[Advirto que o cidadão mencionado neste capítulo não é um pentelho completo. É apenas um semipentelho.]

Prezado André Simões,

Obrigado por escrever sobre a minha pessoa (em http://hu.livroseafins.com/olavo-de-carvalho/) sem ódio ostensivo nem deformações psicóticas demasiado vistosas, e até sem medo de, entre uma crítica e outra, louvar em público algum detalhe que lhe parece meritório na minha atuação pública. Isso é mais do que geralmente posso esperar de qualquer jornalista brasileiro.
No entanto, você ainda ficou bem abaixo daquele patamar mínimo de honestidade que um autor tem o direito de exigir dos críticos da sua obra.
Desde logo, ao confessar que não leu meus livros, nem meus artigos, nem apostilas de meus cursos, que no fim das contas não conhece nada do que escrevi e que tudo o que fez foi assistir pela internet a uns vídeos de meus programas de rádio pelo período de exatamente um dia e nada mais, você é notavelmente eufemístico ao reconhecer que “os admiradores do Olavo de Carvalho me diriam, com razão, que é uma amostra insuficiente de seu trabalho para a emissão de qualquer juízo significativo”.
Não, André. Essa amostra não é “insuficiente”. É totalmente inadequada. Não tem o menor cabimento que um autor, após ter dedicado toda a sua vida à construção de uma obra de jornalista, escritor, professor e filósofo, seja julgado por seu hobby tardio, casual e episódico de radialista. É como se Winston Churchill tivesse toda a sua carreira de escritor e político avaliada pelos quadros que pintou na velhice. E avaliada nem mesmo por um critico que examinasse esses quadros um por um, com critério de connoisseur e historiador, mas por um transeunte acidental que espiasse alguns deles a esmo numa galeria, durante umas poucas horas.
Ademais, você insinua que só “os admiradores de Olavo de Carvalho” exigiriam mais criteriosidade da sua parte. Não, de novo não, André. Quem a exige é a formação de jornalista que você diz ter. Um jornalista simplesmente não faz o que você fez, a não ser que, como aconteceu com todos os membros da sua geração, antes de ingressar na faculdade de jornalismo tenha sido alfabetizado pelo método socioconstrutivista, tornando-se para sempre desprovido do senso das proporções, entre outras habilidades requeridas para a compreensão dos fatos e dos escritos.
Pois o tom do que você escreve não é o de quem critica o conteúdo de dois ou três programas de rádio sem nada prejulgar do que foi dito fora deles, mas, bem ao contrário, o de quem, com base nesse material irrisório, diagnostica e mede a inteligência e a idoneidade de uma pessoa inteira – pessoa que, nesses programas, nunca teve a menor pretensão de ali expor suas concepções filosóficas ou mesmo análises políticas, apenas a de emitir às pressas observações casuais sobre acontecimentos na semana e respostas a e-mails recebidos.
Nisso, aliás, o que você escreveu se enquadra num gênero jornalístico que vem se tornando epidêmico no mundo bloguístico: são artigos, uns mais longos, outros mais curtos, que não discutem uma ou outra opinião minha, mas, em bloco, julgam “o Olavo de Carvalho” sem precisar analisar em profundidade nada do que ele tenha dito ou feito, e, na quase totalidade dos casos, baseando-se na mesma fonte que você usou: meia dúzia de programas de rádio, reforçados por duas ou três fofocas ouvidas a meu respeito na internet. Com base nisso, concluem cientificamente que nunca exponho idéias nem apresento argumentos contra aqueles de quem discordo: só os xingo e deprecio. É evidente que tais apreciações, por sua vez, não merecem nenhum exame demorado, e xingá-las seria até mesmo conceder-lhes uma honra imerecida. No entanto, mais de uma vez, com paciência de Jó, examinei algumas em profundidade, tomando-as como sinais e sintomas de um estado de debacle mental geral brasileira, que, no todo, é indescritível.
Além de a fonte em si ser imprópria para o tipo de julgamento de conjunto que você quis fazer, resta o fato de que nem mesmo essa fonte foi usada de maneira adequada, isto é, investigando e levando em conta a natureza dela e o lugar que ocupa no conjunto do meu trabalho.
Desde os primeiros programas, que você decerto nem mesmo procurou ouvir, adverti repetidamente que o “True Outspeak” não se dirigia ao público em geral, mas a um círculo de alunos e de leitores habituais, e que sua finalidade era apenas fornecer, com a agilidade da expressão oral, a resposta a consultas que me chegavam por e-mail em número maior do que eu poderia responder por escrito. Mesmo o que ali parece simples comentário de alguma notícia é sempre resposta ao remetente que me enviou essa notícia e pediu que eu a comentasse. É uma conversa entre amigos, repleta portanto de subentendidos que o recém-chegado nem sempre capta à primeira audição, mas sem os quais ela pode se tornar motivo de malentendidos, malgrado a aparente facilidade da linguagem informal aí utilizada.
Como você só agora entrou no rol dos meus ouvintes, decerto não teve ciência desse aviso.
Essa orientação que adotei exige algumas premissas que, para aquele círculo de pessoas, se tornaram óbvias e costumeiras.
Desde logo, TUDO o que digo no programa é apenas exemplificação rápida, sumária e informal, humorística e despretensiosa, de coisas que, nos meus livros, aulas e artigos, já expliquei com mais detalhe e demonstrei com mais rigor.
O autor de quinze livros, dois mil artigos de mídia e quase quarenta mil páginas de aulas transcritas, indexadas e catalogadas, tem o direito de presumir que seus ouvintes habituais, afeitos como estão ao trato desse material, não julgarão suas opiniões só pela versão monstruosamente compactada de um improviso oral – às vezes de dois minutos ou menos para cada tema --, mas, em caso de dúvida ou estranheza, tratarão de investigar se não falei do mesmo assunto em outros lugares, dando-lhe fundamentação mais sólida e às vezes uma justificação cabal.
Assim, afirmações que aos ouvidos do recém-chegado pareçam estranhas, heterodoxas ou até mesmo absurdas acabarão se revelando no mínimo sensatas e razoáveis, e às vezes até óbvias e patentes, tão logo o interessado, em vez de julgar pela primeira impressão, tenha a gentileza de escavar um pouco mais fundo e descobrir o que mais eu possa ter dito a respeito em circunstâncias mais formais e exigentes do que uma conversa humorística pelo rádio.
A falta desse complemento pode levar a conclusões bem erradas, como por exemplo esta:
“Olavo, no entanto, também é absurdo quando coloca, como indício de relação necessária entre homossexualismo e pedofilia, o fato de Luiz Mott, líder brasileiro do movimento gay, ter dado depoimento à televisão enquanto, distraidamente, alisava a estátua de uma criança, na parte equivalente à bunda. Ora, mesmo se Mott registrasse em três vias que é homossexual e pedófilo, inferir essa relação seria leviano.”
Meus alunos e meus leitores habituais sabem que nada inferi de um exemplo fortuito; que, naquele comentário, eu aludia um assunto já amplamente exposto em aula, isto é, às pesquisas da Dra. Judith Reisman, uma cientista de reputação mundial, a respeito do caráter francamente pedófilo do IMAGINÁRIO CULTURAL gayzista, uma relação que ela comprovou pelo exame de milhares de livros, filmes e revistas que colecionou ao longo de quarenta anos, a maior documentação textual e iconográfica sobre esse tema já reunida neste mundo. A tese jamais foi contestada seriamente, nem creio que possa sê-lo jamais.
Quem quer que tenha ouvido aquele programa sabendo dessa retaguarda, o que era sem dúvida o caso do público específico a que eu me dirigia, entendeu na hora que se tratava apenas de acrescentar mais um exemplo à coleção da dra. Judith, e não de generalizar a partir de um exemplo isolado, como você insinua.
Ademais, se você prestar atenção ao que eu disse ali, verá que não sugeri nem de longe que o sr. Mott FOSSE pedófilo pessoalmente; afirmei somente que ele FAZIA PROPAGANDA E APOLOGIA da prática pedófila, coisa que se depreende imediatamente da imagem transmitida: ninguém, ao falar de sexo, afaga ao mesmo tempo o traseiro de uma estátua de bebê pelado se não visa a sugerir que traseiros de bebês são objetos de desejo sexual como quaisquer outros. Principalmente porque a estátua não estava ali como coisa neutra, parte acidental do cenário como uma cadeira ou uma mesa, e sim como peça da coleção de arte erótica a que o sr. Mott naquele momento aludia, peça escolhida para representar sinteticamente a coleção inteira.
Em nenhum momento sugeri que essa imagem fosse, como você diz, ´ “indício de relação necessária entre homossexualismo e pedofilia”, mesmo porque, como estudioso de lógica, sei que não existem “indícios de uma relação necessária”: todo indício só pode ser de uma relação possível ou no máximo provável (você reconhece que não leu nenhum livro meu, mas o “Aristóteles em Nova Perspectiva” poderia ajudá-lo a não cair nesse erro).
Mas nem essa possibilidade afirmei, limitando-me à exata leitura fenomenológica da imagem apresentada, imagem que, ao apresentar um traseiro de bebê como objeto banal e improblemático de desejo erótico, dessensibiliza o público para o horror da pedofilia e lhe sugere que se trata de uma relação sexual como qualquer outra.
Eu seria um louco se, dessa imagem, extraísse a conclusão de que o sr. Mott é pedófilo, e mais ainda se insinuasse alguma “relação necessária”. Mas seria um idiota se me impedisse de ver nela um intuito apologético que a própria imagem estampa da maneira mais patente e descarada, e se, por respeito devoto e temor reverencial ao movimento gayzista, me forçasse a não enxergar ali nada mais que uma pura e inocente coincidência, tornando-me assim personagem da “boutade” de Groucho Marx: “Afinal, você vai acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?”
Por mais que você se recuse a enxergar com seus próprios olhos e prefira fazê-los com os de uma convenção politicamente correta, não é possível negar que o simples fato de uma estátua de bebê pelado estar numa coleção de arte erótica supõe que bebês pelados sejam objetos de desejo erótico. Será tão difícil entender isso?
Com toda a evidência você inflou o significado das minhas palavras, até mesmo recorrendo ao oxímoro “indício de relação necessária” para transformar numa absurdidade ofensiva algo que não passava da interpretação adequada do sentido de uma imagem.
Se errou primeiro ao dar por pressuposto que o meu rápido comentário a respeito era auto-suficiente, sem retaguarda mais séria, errou de novo ao dar às minhas palavras uma interpretação hiperbolicamente distorcida, típico “boneco de palha” da retórica tradicional.
Pergunto eu: se você não fez isso por ter uma hostilidade irracional à minha pessoa, como de fato parece que não tem, por que o fez então? Só pode ser por um motivo: seu temor de parecer antipático aos homossexuais leva-o a interpretar como absurdidade, imediatamente e sem exame lógico suficiente, o que quer que se diga contra o movimento gayzista. Examine bem a origem das suas reações, e verá que, se não é isso, é alguma coisa do mesmo tipo.
A mesma reação observa-se no argumento flagrantemente absurdo que você apresenta neste parágrafo:
“O mesmo se pode dizer em relação ao seguinte desafio proposto a Jean Wyllys: responder como, usando uma extensão de raciocínio, uma vez que a “cura gay” está desautorizada, profissionais da saúde poderiam tratar de alguém que chegasse ao consultório dizendo sofrer pela condição de masturbador compulsivo, e por isso solicitando ajuda. Não seria uma interferência indevida num comportamento sexual?... Se o deputado do PSOL ainda não respondeu, permitir-me-ei tomar o lugar dele, em termos do gosto de Olavo de Carvalho: se um camarada chega a um consultório dizendo que dá o cu, não há o que se tratar; se ele diz que fode bucetas, também não; se ele diz que se masturba, qualquer profissional razoável dirá que isso é normal. Agora, se o sujeito diz que está dando tanto o rabo que não consegue mais sentar, temos algo a se ver; se diz que fode tantas bucetas que não teve tempo para ir ao serviço e perdeu o emprego, o caso requer atenção; se diz que soca tanta bronha que teve apagadas as digitais e a linha da vida, melhor lhe dar ouvidos. O problema não é o cu, a buceta ou a mão, mas sim a compulsão sexual.”
Em primeiro lugar, você confunde compulsão com dano físico ou social resultante. Qualquer pessoa pode ter uma conduta compulsiva durante décadas, em segredo e sem que dela resulte nenhum dos efeitos catastróficos visíveis que você exemplifica, e ainda assim desejar livrar-se da compulsão, pelo simples fato de que ela o humilha por dentro, contraria os seus valores morais ou o impede de realizar algum ideal de vida. Ou por qualquer outra razão. Uma conduta não é compulsiva pelos seus efeitos, muito menos pelos seus efeitos espetaculares, mas pelo simples fato de ser indesejada e ao mesmo tempo irreprimível ou difícil de reprimir.
Em segundo lugar, dizer que o problema não está nesta ou naquela prática sexual e sim na compulsão é puro “flatus vocis”. Por definição, ninguém pede ajuda profissional para livrar-se de um impulso qualquer quando pode controlá-lo por suas próprias forças. Qualquer conduta sexual que leva alguém a um consultório psiquiátrico ou psicológico é necessariamente compulsiva.
Em terceiro, você nem percebe que seu raciocínio não reforça a posição do sr. Wyllys e sim a minha: se uma conduta sexual deve poder ser objeto de tratamento não por ser esta ou aquela em particular e sim por ser compulsiva, isto é, indesejada e difícil de controlar, não há qualquer diferença, sob esse aspecto, entre o homossexualismo, a masturbação, o exibicionismo ou qualquer outra prática sexual. Basta o paciente querer mudar de conduta e ter dificuldade para isso, para que o seu direito a tratamento e o direito de o médico ou psicólogo lhe dar esse tratamento estejam automaticamente assegurados pela lei, pela lógica e por qualquer senso moral razoável.
Aqui, novamente, seu temor de parecer anti-homossexual leva-o a cometer um erro indigno da sua inteligência, que parece ficar paralisada quando toca nesses assuntos.
Se há algo que destrói uma inteligência pela raiz é o desejo de parecer normal e aceitável a um grupo de referência ou mesmo a um círculo de pessoas queridas. Isso é o que leva alguém a condenar imediatamente, e sem julgamento, qualquer afirmativa que lhe pareça contrariar o “senso comum” das pessoas que ele considera sérias e confiáveis.
Por exemplo, você se refere a “episódios lamentáveis em que ele, diletante do rigor científico, apressadamente propaga boatos hilariantes de internet (“estão usando fetos para adoçar Pepsi”), sem nem pensar em checar fontes, conferir dados…
Checar fontes? Conferir dados? Você me viu, na tela, manuseando a papelada das fontes que utilizo para cada programa, umas cem páginas em geral. Teve o cuidado de me perguntar que fontes eram essas? Teve o cuidado de checá-las? Que nada! Ouviu algum boboca dizer que o caso are apenas uma lenda internética, e imediatamente subscreveu essa opinião com a maior leviandade, e ainda se fazendo de jornalista sério ao alegar que quem não “checa fontes” e não “confere dados” sou eu, NO MESMO MOMENTO EM QUE VOCÊ MESMO INCORRIA NESSES DELITOS.
Você não parece ser comunista, mas, nesse ponto e em muitos outros, segue à risca a fórmula leninista: “Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é.”
Ora, eu vivo nos EUA, acompanhei esse caso desde as suas origens até a carta final em que a Pepsi, após ter financiado as pesquisas da Senomix com células fetais e sofrido boicote dos consumidores por essa razão ao longo de todo um ano, respondendo-lhes com um silêncio desdenhoso e suspeitíssimo, se comprometia a exigir que essa empresa não usasse aquelas células, encerrando assim a controvérsia.
Por sorte, costumo guardar todos os recortes e links que uso como material de referência no True Outspeak, em geral mais de cem páginas para cada programa. Embora você tenha me visto na tela manejando essa papelada, deu por pressuposto que eu nem tinha fontes confiáveis nem as havia conferido umas com as outras. De onde você tirou essa idéia? Do fato de que eu falasse sobre cada assunto apenas dois ou três minutos, sem mencionar as fontes? Pois veja aqui algumas delas. Há no meio alguns artigos publicados em blogs, sim, mas também artigos de grandes jornais e documentos de fonte primária (cartas, publicações oficiais) que você desconhece por completo e a respeito dos quais se pronuncia “sem nem pensar em checar fontes, conferir dados…”:
http://www.washingtontimes.com/news/2012/apr/30/pro-lifers-drop-pepsi-boycott/ (um mês antes este mesmo jornal havia negado que o problema existisse).
http://www.realfarmacy.com/pepsico-says-it-will-halt-use-of-aborted-fetal-cells-in-flavor-research/
http://www.cogforlife.org/2011/06/06/senomyx-and-pepsis-public-deception-all-the-proof-you-need/
http://www.naturalnews.com/035276_Pepsi_fetal_cells_business_operations.html#ixzz2bzpPR2ET
http://online.wsj.com/article/SB10001424052748704554104575435312538637530.html
http://www.cogforlife.org/wordpress/wp-content/uploads/2012/05/pepsiSEC.pdf
http://www.cogforlife.org/wordpress/wp-content/uploads/2012/04/pepsiresponse.pdf
http://www.cogforlife.org/wordpress/wp-content/uploads/2012/05/PepsiToSEC0001.pdf
http://patft.uspto.gov/netacgi/nph-Parser?Sect1=PTO2&Sect2=HITOFF&u=%2Fnetahtml%2FPTO%2Fsearch-adv.htm&r=0&p=1&f=S&l=50&Query=Senomyx&d=PTXT
http://www.cogforlife.org/per-c6-hek-293/
Desqualificar informações sob a alegação de que são “fofocas da internet” é um dos chavões mais recorrentes neste mundo. Os que o empregam não são pessoas que pesquisaram por si mesmas, mas gente que tem pavor de contrariar a opinião bem-pensante, o politicamente correto, o “normal”, e julgam tudo por uma impressão de verossimilhança, expressando-se porém em termos que simulam uma escrupulosidade intelectual irretocável. Exatamente como você faz. Responda sinceramente: você conhecia alguma destas fontes? Investigou pessoalmente o caso? Ou atribui a mim uma conduta que é a sua?
Mais errado ainda você se torna quando, baseado no seu exame de um dia, emite julgamentos como este: “É como se, para discordar de Olavo de Carvalho, o sujeito precisasse entender todas as referências e citações de seu discurso (algumas vagamente relacionadas ao tema em questão).”
Você quer dizer que no decorrer de um só dia examinou todas essas referências e citações ou pelo menos um alto número delas e comprovou, caso por caso, que eram só “vagamente relacionadas ao tema em questão”, usadas portanto apenas para intimidar o adversário e dar impressão de cultura, e não obras essenciais que nenhum debatedor acadêmico do assunto teria o direito de ignorar?
Você sabe que não fez isso. Você sabe que não examinou referência nenhuma. Você sabe que da maioria delas, ou de todas, ouviu falar pela primeira vez no meu programa e nem imagina que conteúdo possam ter. Você sabe que não tem a menor idéia da relação entre essas referências e cada assunto abordado, e no entanto posa de examinador sério e experiente que, do alto de um rigor intelectual admirável, julga e condena as leviandades de um principiante.
É puro teatro, e você sabe que é.
Mais teatro ainda é este julgamento : “Sua postura, no mínimo indiferente, mas talvez incentivadora, frente à veneração religiosa que seus ‘seguidores’ lhe prestam é inadequada para um católico.”
Você quer mesmo fazer crer que, à mera audição de uns programas meus durante, você já entendeu não só a minha mentalidade, mas também os sentimentos íntimos de milhares de meus alunos e leitores a respeito da minha pessoa?
Pergunto eu: Quantos deles você entrevistou, analisou, comparou? Quantos depoimentos leu? Tem motivos sérios, intelectualmente relevantes, para acreditar que expressam apenas emoções fantasiosas e não alguma gratidão natural e razoável por benefícios reais recebidos? Tem alguma prova disso em pelo menos um único caso? Teve, durante as suas extensas pesquisas de um só dia, a oportunidade de examinar um único caso concreto e concluir que a admiração ou carinho que a pessoa demonstrava por mim era desarrazoada, insensata, sem motivo, puro frenesi místico-religioso? Ou é tudo conjetura da sua parte, imaginação, chute? Você sabe que é. Não minta para você mesmo.
Por fim, é também pura afetação e fingimento a seguinte afirmação peremptória: “Algumas de suas predições, a partir de indícios dispersos, beiram o delírio.” Diga uma, então. Cite uma delas, uma só, e prove, com algo melhor do que “indícios dispersos”, que ela não tem base, que é louca, ridícula, impossível de se cumprir.
Você não faz isso. Não faz porque não pode. E não pode porque nem teve tempo de pensar no assunto, nem dispõe da mais mínima informação capaz de impugnar qualquer conclusão que eu tenha obtido de qualquer fonte que seja. De novo, apela a um chavão que se dá por autoprobante, e solta um julgamento genérico no ar sem poder descer a detelhes concretos, pela simples razão de que não tem nenhum.
Você não me parece ter nenhuma prevenção contra mim nem ser um sujeito mal intencionado. Por que então se suja dessa maneira? Com certeza é porque, quando admira alguém, tem pavor de passar por fanático devoto, e tem de entremear as expressões de louvor com alguma crítica, mesmo puramente inventada, só para dar a impressão de que “pensa por si próprio”. É frescura típica de brasileiro.
Somada ao tom de superioridade condescendente com que você me concede algumas virtudes, o efeito é de uma incongruência grotesca, que nem por lhe escapar por completo deixa de ser visível para terceiros.
Você mostrou ser suficientemente inteligente para notar que não sou burro, mas não inteligente o bastante para perceber que é mais burro que eu. Mutatis mutandis, é honesto o bastante para notar que não sou cem por cento desonesto, mas não é honesto ao ponto de perceber que a sua honestidade ao falar de mim não chega a noventa, nem setenta, nem cinqüenta por cento. Se o percebesse, sentiria estar falando de alguém que lhe é superior, e essa é uma experiência que o brasileiro de hoje em dia evita com horror e repugnância indescritíveis, porque ela o exporia à acusação de “idolatria” e “devoção religiosa” da parte de outros que sentem exatamente como ele. Cada um vê-se diariamente tentado a olhar no espelho e perguntar: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais inteligente, honesto e confiável do que eu?” Mas não chega a fazer isso, porque sabe que a resposta o jogaria num estado de depressão inconsolável.

Com meus melhores votos,

Olavo de Carvalho

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