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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Richard Dawkins e a sua cabeça de galinha que põe ovos para procriação

Fonte: http://espectivas.wordpress.com/2011/07/19/richard-dawkins-e-a-sua-cabeca-de-galinha-que-poe-ovos-para-procriacao/

«Uma besta moderna como Richard Dawkins, afirma implicitamente que, para além de não podermos encontrar provas da existência de Deus, podemos encontrar na beleza do universo, na sua harmonia grandiosa, um substituto.»



O neodarwinismo, como teoria de explicação para a origem da vida, está morto; apenas os neodarwinistas ainda não se deram conta disso. Porém, convém dizer que pelo facto de neodarwinismo estar morto, isso não significa que o universo tenha tido o seu início há seis mil anos, como alguns criacionistas defendem… nem oito, nem oitenta!
As nano-máquinas intracelulares foram os testes de falsicabilidade da teoria neodarwinista, que se revelou falsa, por um lado, e a entropia genética foi o pesadelo dos darwinistas inteligentes — porque os burros ateístas continuam a ver elefantes cor-de-rosa —, por outro lado.

A teoria de Darwin, depois de reinterpretada pelo neodarwinismo como visão do universo (que não chega a ser uma visão completa), está na base da sociobiologia que se dedica ao estudo do comportamento social dos animais, transpondo estes conhecimentos animalescos para o comportamento do ser humano. Por aqui podemos ver a barbaridade a que nos levou a ciência contemporânea…
Para explicar as formas contraditórias de comportamento animal — por exemplo, os leões matam as crias de uma fêmea quando se “apropriam” dela —, a sociobiologia introduz o princípio do interesse próprio e da vantagem própria. Vemos aqui como a sociobiologia, o darwinismo e o utilitarismo exacerbado “se unem”, tentando formar uma mundividência que não é só “científica”, mas sobretudo ética e, portanto, política.
Segundo a sociobiologia, o interesse próprio explica por que motivo o leão mata os jovens da sua espécie — para o leão, não se trata da preservação da espécie, mas antes da transmissão dos seus próprios genes. Foi deste conceito que nasceu a ideia do “gene egoísta” aplicado também ao ser humano, segundo Richard Dawkins.
Partindo do princípio utilitarista do interesse próprio (o espaço aqui é curto e não dá para mais detalhes sobre este princípio), Richard Dawkins e os neodarwinistas concluem que o comportamento social ou altruísta é apenas um “truque dos genes”: o ser vivo (incluindo o Homem) não passa de uma multidão de moléculas à procura da transmissão da informação genética.
Richard Dawkins encontra-se na tradição determinista de Descartes, que compreendeu, no século XVII, o ser humano como uma máquina com sistemas de tubagens e roldanas — trata-se de um modelo através do qual tudo no ser humano é explicado em termos de mecânica. Para Richard Dawkins, o ser humano é uma máquina de sobrevivência de genes egoístas, que construíram o seu organismo, o comportamento e o modo de funcionamento, com o objectivo único de transmissão das “linhas germinais” às gerações futuras. Escreve Dawkins: “Nós somos máquinas de sobrevivência — robôs programados cegamente para a manutenção das moléculas egoístas, que se chamam genes”.
Segue-se — segundo Richard Dawkins e o neodarwinismo — que nenhum ser humano age verdadeiramente bem, porque o interesse de sobrevivência dos genes está para além do bem e do mal — e vemos como se entronca Nietzsche nesta mundividência e nesta ética!…vemos como as ideias se entrecruzam!
Em vez do bem e do mal, e segundo Richard Dawkins, a natureza produz-nos habilidosamente através de mecanismos do prazer — como por exemplo, as cobiças, os desejos, os prazeres e a satisfação (vemos aqui claramente a “mão invisível” de Bentham). A natureza, segundo Dawkins, oferece-nos estas prendas prazenteiras para nos subordinar à escravatura dos seus interesses. Richard Dawkins chega ao ponto de supor que o cérebro humano ganhou as dimensões que tem, em resultado dos enganos dos seres humanos uns para com os outros, no sentido da defesa do interesse próprio que mantém os genes egoístas felizes e bem dispostos.
Esta mundividência levou a que Richard Dawkins se questionasse sobre se Hitler não teria agido de uma forma correcta, porque ela terá necessariamente que achar compreensível que, em muitas culturas, o infanticídio e o aborto estejam muito difundidos e que não provoquem nenhuma agitação na consciência pública — porque, para determinados grupos humanos, a partir de um determinado número de crianças, uma criança a mais já não constitui um investimento razoável, se com isso se dificulta a sobrevivência dos pequenos portadores de genes já existentes. Do ponto de vista da sociobiologia, o infanticídio revela-se, de facto, como uma estratégia económica de reprodução, embora suponhamos que nenhum sociobiólogo apoie ou aprove esta estratégia.
Os genes não querem saber nem do sentido da vida, nem do sofrimento, nem da felicidade; os genes não querem saber absolutamente de nada. No mundo dos genes não se pode encontrar qualquer sentido de justiça. “O universo que observamos tem precisamente as características com as quais se conta quando, por trás dele, não existe nenhum plano, nenhuma intenção, nenhum bem ou mal, nada, além da cega e impiedosa indiferença” (Richard Dawkins).

O leitor repare bem num facto incontestável: os robôs não têm dignidade. A velha ideia segundo a qual a galinha existe apenas para produzir ovos para a procriação, só pode vir da cabeça de um burro altamente sofisticado, embora com um curso superior que lhe garante um alvará de inteligente. E se esta ideia aplicada à galinha é absurda, mais absurda é quando aplicada aos seres humanos. Naturalmente que sabemos que o princípio do interesse próprio explica muita coisa, mas não explica tudo — a não ser que uma besta neodarwinista, como é o caso de Richard Dawkins, também explique uma sinfonia de Beethoven ou um quadro de Rembrandt por via do princípio do interesse próprio…
Se aplicarmos esta teoria a si própria, ainda se torna mais absurda. Assim, ela seria o produto de uma máquina de sobrevivência genética inglesa especial, de tipo Richard Dawkins, cujos genes egoístas procuram a sua vantagem de selecção através da formulação desta teoria — e, para enganar os outros, esta máquina Richard Dawkins afirma que a sua teoria é verídica. No entanto, visto que qualquer outra máquina de sobrevivência pode formular, exactamente com o mesmo direito, uma teoria oposta, então terá que ser o direito do mais forte a decidir — e isto explica a razão pela qual a sociobiologia é tão popular entre racistas e entre adeptos de um capitalismo brutal!
No caso de o próprio Richard Dawkins considerar a sua própria teoria como sendo verídica, ele tornou-se vítima de um feito extraordinário, na medida em que ninguém engana melhor do que aquele que é capaz de se enganar a si próprio…!

sábado, 23 de julho de 2011

A tradição revolucionária – Parte 3

http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/12251-a-tradicao-revolucionaria-parte-3.html


Que poder, no mundo, jamais se organizou para enfrentar uma coisa dessas? Por favor, não caiam no ridículo de mencionar a CIA, organização incomparavelmente menor, cuja inermidade ante essa máquina infernal já se comprovou centenas de vezes.
A monstruosa superioridade do movimento revolucionário ante seus adversários de todos os matizes não se limita, é claro, ao campo da desinformação estratégica. Nada se compara à sua capacidade de mobilização de massas em qualquer país do mundo, quando não em todos eles, e em tempo quase instantâneo. Dois exemplos clássicos:
(1) A guerrilha de Chiapas, que, derrotada mil vezes no terreno militar, acabava obtendo tudo o que queria no campo político, graças aos protestos que se seguiam imediatamente, em dezenas de países, a cada vitória do governo mexicano.
(2) As manifestações populares que se seguiram em prazo recorde ao atentado mortífero de dezembro de 2003 na Espanha, voltadas, não contra os terroristas, mas contra... o governo espanhol.

Nesses episódios, como em centenas de outros, salta aos olhos a articulação do movimento revolucionário, unificando terrorismo, desinformação e protestos de massa.

A invulnerabilidade política da guerrilha de Chiapas serviu de modelo para o estudo The Advent of Netwar , de John Arquilla e David F. Ronfeldt, publicado pela Rand Corporation, que pode ser descarregado do sitehttp://www.rand.org/publications/MR/MR789/, que pioneiramente descreveu a nova estrutura "em redes", infinitamente mais eficaz, que havia substituído a velha hierarquia monolítica dos partidos revolucionários.
A mobilização instantânea dessa rede colocava o governo mexicano numa luta inglória contra um inimigo evanescente, "onipresente e invisível", que nenhuma força armada poderia jamais controlar. (V. o meu artigo "Em plena guerra assimétrica", DC, 24 de julho de 2006, http://www.olavodecarvalho.org/semana/060724dc.html).
O caso espanhol ilustra ainda mais claramente a força da hegemonia cultural como preparação do terreno para grandes operações que articulam desinformação e protestos de massa. Ante a brutalidade dos atentados, um governo conservador intoxicado e enfraquecido por temores "politicamente corretos", plantados na mente da classe dominante com décadas de antecedência, sentiu-se inibido de ferir suscetibilidades islâmicas e preferiu, num primeiro momento, atribuir o crime ao ETA, a guerrilha basca. Em menos de vinte e quatro horas a massa organizadíssima, claramente preparada de antemão, estava nas ruas protestando contra a ineficiência do governo em localizar os verdadeiros culpados. Foi o fim do gabinete conservador (v. meu artigo "Exemplo didático", Jornal da Tarde, 25 de março de 2004, http://www.olavodecarvalho.org/semana/040325jt.htm).
Por favor, pensem um pouco e respondam: existe no mundo alguma articulação direitista, conservadora ou reacionária habilitada a brincar assim de gato e rato com os governos revolucionários como estes fazem com todos os demais governos?
Vejam só o caso da Rússia: com o seu contingente duplicado, a KGB conta, hoje em dia, com milhares de pseudópodos espalhados pelo mundo, operando legalmente sob o disfarce de bancos, indústrias, firmas de consultoria, o diabo; tem ademais a seu serviço a máfia russa, que desde o começo dos anos 90 possui o domínio sobre todas as grandes redes criminosas do mundo, da Sibéria à Venezuela e à Colômbia (v. Claire Sterling, Thieves' World: The Threat of the New Global Network of Organized Crime, New York, Simon & Schuster, 1994, bem como Helène Blanc e Renata Lesnik, L'Empire de Toutes les Mafias, Paris, Presses de la Cité, 1998), mais o terrorismo islâmico que é criatura sua (v. Ion Mihai Pacepa, The Arafat I Knew emhttp://www.weizmann.ac.il/home/comartin/israel/pacepa-wsj.html) e todos os movimentos revolucionários militantes do mundo, agora unidos a ela por laços cada vez mais complexos e difíceis de rastrear. Que poder, no mundo, jamais se organizou para enfrentar uma coisa dessas? Por favor, não caiam no ridículo de mencionar a CIA, organização incomparavelmente menor, cuja inermidade ante essa máquina infernal já se comprovou centenas de vezes.
Para piorar ainda mais as coisas, resta o fato de que a elite econômica ocidental, que uma opinião pública boboca pode ainda imaginar empenhada em defender a democracia e a liberdade, há muitas décadas já se deixou seduzir pela proposta de "governo mundial", que traz as marcas inconfundíveis do ideal revolucionário: um projeto de sociedade hipotética a ser realizado mediante a concentração do poder.
Concentração aliás muito mais densa que aquela prevista em qualquer dos projetos revolucionários anteriores, já que baseada no total controle da psicologia das massas por uma elite de "engenheiros comportamentais" iluminados (v. Pascal Bernardin, Machiavel Pédagogue - Ou le Ministère de la Réforme Psychologique, Éd. Notre-Dame des Grâces, 1995).
A convergência desse projeto com a utopia socialista é tão acentuada que, nos países ocidentais, a KGB não precisa gastar um tostão para promover a demolição "politicamente correta" da moral e das instituições: o serviço é feito inteiramente sob os auspícios da elite globalista bilionária, em cuja vanguarda se destacam George Soros e a família Rockefeller.
O segredo da hegemonia revolucionária é simples: continuidade e intensidade do debate interno. Em qualquer conflito, cruento ou incruento, o contendor que dura mais é, por definição, o vencedor. O clássico simbolismo chinês já representava o poder ativo, soberano, por uma linha contínua, a passividade por uma linha quebrada. A fragilidade das resistências que se opõem ao avanço revolucionário advém do fato de que mesmo as entidades mais antigas, mais aptas, portanto, a sustentar objetivos de longo prazo, como a Igreja Católica, a Casa Real Britânica, a comunidade judaica, a Maçonaria ou mesmo o governo americano, têm suas finalidades próprias, distintas e limitadas, só ocasionalmente e pontualmente entrando em disputa direta com o movimento revolucionário na luta pelo poder mundial que é, para ele, o objetivo constante e o foco unificador de todos os seus esforços. A visão que essas entidades têm do processo revolucionário é acidental e quebradiça. É nos intervalos dessa linha descontínua que o movimento revolucionário se insinua, utilizando para seus próprios fins as energias daqueles que teriam tudo para ser seus mais eficientes e temíveis adversários.

A tradição revolucionária – Parte 2

http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/12249-a-tradicao-revolucionaria-parte-2.html


O sucesso dos mais espetaculares ardis de desinformação estratégica postos em prática pelos governos revolucionários seria, no entanto, impossível sem a hegemonia cultural e psicológica de que o movimento revolucionário desfruta em escala mundial.
Os efeitos da hegemonia revolucionária são visíveis por toda parte. Não faltam exemplos mais perto de nós. O "Plano Colômbia", de Bill Clinton, fornecendo ajuda ao governo colombiano para o combate ao narcotráfico sob a condição de que "não tocasse nas organizações políticas", serviu apenas para, desmantelando os antigos cartéis, dar às FARC o monopólio do comércio de drogas na América Latina, fazendo daquela incipiente organização guerrilheira uma potência de dimensões continentais e o sustentáculo financeiro do Foro de São Paulo que hoje domina doze países latino-americanos e vai rapidamente estendendo seus tentáculos por todos os outros. Ao mesmo tempo, o plano serviu de pretexto para que as mesmas FARC desencadeassem uma violenta campanha de publicidade contra a "agressão americana" personificada no mesmo plano. Dialeticamente, não há contradição nenhuma em beneficiar-se da ajuda recebida e usá-la como instrumento de propaganda contra o desastrado benfeitor. Muitos críticos do movimento revolucionário dizem horrores do "pensamento duplo" que o inspira, mas raramente entendem que por trás de uma aparente contradição lógica se esconde uma ação de mão dupla inteiramente racional do ponto de vista prático.
Por mais chocante que pareça, esse exemplo é rigorosamente nada em comparação com as grandes operações de desinformação estratégica com que o velho governo soviético conseguia -- e o atual governo russo ainda consegue -- fazer seus adversários trabalharem para ele, realizando integralmente o ideal de Sun-tzu, segundo o qual a mais brilhante das vitórias se obtém sem combate, moldando à distância as decisões do governo inimigo por meio de um bem calculado fluxo de informações entre verdadeiras e falsas.
Outro caso notável foi a facilidade com que a desinformação soviética, apelando à confiança dos americanos na invulnerabilidade das suas instituições democráticas e agitando na sua frente o fantasma da "perseguição macartista" (em cuja realidade a mídia e o establishment continuam acreditando até hoje), logrou bloquear investigações decisivas sobre a penetração comunista nas altas esferas do governo de Washington, só para que quarenta anos depois a abertura dos arquivos de Moscou viesse a confirmar, tarde demais, as piores suspeitas do senador Joe McCarthy, com a única diferença de que os infiltrados não eram dezenas, como ele supunha, mas sim milhares.
Duas décadas atrás, a diplomacia chinesa, repetindo o truque que Lênin já aplicara aos investidores europeus em 1921 conseguiu convencer políticos e empresários americanos de que a abertura para a economia de mercado traria automaticamente a liberalização do regime. Mesmo após o massacre da Praça da Paz Celestial os sábios de Washington continuaram afirmando anestesicamente que "a China estava no bom caminho". Com toda a evidência, o instrumento de desinformação utilizado no caso foi uma das crenças mais queridas dos liberais e conservadores: o nexo de implicação recíproca entre liberdade econômica e liberdade política.
O sucesso dos mais espetaculares ardis de desinformação estratégica postos em prática pelos governos revolucionários seria, no entanto, impossível sem a hegemonia cultural e psicológica de que o movimento revolucionário desfruta em escala mundial. Hegemonia cultural significa ser o controlador dos pressupostos embutidos no pensamento do adversário, de tal modo que o trabalho dos agentes envolvidos numa operação concreta de desinformação estratégica se reduz ao mínimo. Quando o agente de desinformação trabalha num ambiente já antecipadamente preparado pela hegemonia cultural, ele pode controlar facilmente as reações do adversário sem precisar abusar dos expedientes usuais da espionagem que tornariam a sua ação mais visível, mais material. Por isso o velho Willi Münzenberg chamava essas operações de "criação de coelhos": basta juntar um discreto casal de bichinhos e contar com a propagação automática dos efeitos esperados. Uma ação clássica do tipo "medidas ativas" pode ser investigada e denunciada pelos meios usuais dos serviços de inteligência, mas uma operação fundada em prévia hegemonia cultural pode tornar-se tão evanescente que qualquer tentativa de denunciá-la acabe assumindo as aparências da mais louca "teoria da conspiração". Por isso é que Antonio Gramsci qualificava a influência do partido revolucionário, quando escorada na hegemonia cultural, de "um poder onipresente e invisível". Tanto mais invisível quanto mais onipresente.
Enquanto o movimento revolucionário se move com a destreza alucinante de uma dialética capaz de absorver e aproveitar todas as contradições, as elites ocidentais, nominalmente liberais ou conservadoras, se apegam a uma lógica linear de tipo positivista que, quando não encontra um elo material de causa e efeito escancaradamente visível, acredita que nada está acontecendo.
Os filósofos escolásticos ensinavam que, para agir, é preciso antes existir. A existência, por sua vez, pressupõe unidade e continuidade. Um ser dividido em pedaços, desprovido de vida unitária, não é de maneira alguma um ser: é uma ilusão fantasmal que se agita no ar por instantes, deixando livre o espaço histórico para a ação do ser genuíno.
Não há nenhum exagero em dizer que o movimento revolucionário mundial é a única força política que conta para alguma coisa na história do mundo. Enquanto seus adversários não o perceberem como unidade, nada poderão contra ele. Lutando contra uma de suas alas, acabarão servindo a alguma outra, como tem acontecido invariavelmente. No fim das contas, toda a política mundial corre o risco de acabar se reduzindo a um leque de conflitos internos do movimento revolucionário.
Se e quando isso acontecer, não será excesso de pessimismo anunciar o início de mil anos de trevas.

terça-feira, 19 de julho de 2011

A felicidade, a ética e o direito

http://www.midiasemmascara.org/artigos/conservadorismo/12258-a-felicidade-a-etica-e-ondireito.html
O "direito à felicidade", como justificação para as engenharias sociais que têm a ilusória pretensão de alterar a natureza humana, é uma das maiores fraudes éticas, ideológicas e políticas da modernidade, perpetradas pelo movimento revolucionário (neognosticismo).
A Itália acaba de rechaçar a lei esquerdista da eutanásia, depois de França, a Bulgária e a Polónia terem feito o mesmo. Alegadamente, os proponentes da lei da eutanásia fazem-no em nome da liberdade do indivíduo e, paradoxalmente, em nome do direito individual à felicidade - ou seja, não podendo o indivíduo ser feliz, terá, então, o direito a exigir da sociedade o seu aniquilamento.

Um fenómeno semelhante passou-se com o "casamento" homossexual e com guerra cultural subversiva pelos novos "direitos" dos gays. Talvez o argumento mais propalado pelo gayzismo e acolhido na opinião pública foi o de que "todos têm o direito à sua felicidade".
Eu sou a favor da valorização da opinião pública nas decisões políticas. Pior do que a opinião pública é corrermos o risco de cairmos em uma ditadura de sábios. G. K. Chesterton escreveu: "Without education, we are in a horrible and deadly danger of taking educated people seriously." (sem a educação, corremos um horrível e mortífero perigo de levar a sério as pessoas educadas). Porém, se perguntarmos a uma pessoa (qualquer que seja) o que é a felicidade, ela não saberá dizer o que é. A felicidade não tem definição: nem colectiva, nem individual.
O "direito à felicidade", como justificação para as engenharias sociais que têm a ilusória pretensão de alterar a natureza humana, é uma das maiores fraudes éticas, ideológicas e políticas da modernidade, perpetradas pelo movimento revolucionário (neognosticismo). Toda a ética que inclui na sua teoria o "direito à felicidade" (seja a felicidade individual, seja colectiva), é uma ética falsa e absurda. E toda lei positiva que preveja o "direito à felicidade" como seu fundamento, é um contra-senso que tem a sua origem em um sistema ético absurdo.
Santo Agostinho observou (e bem!) que todos os homens desejam ser felizes, e a felicidade define-se pela obtenção do maior prazer. Porém, a diversidade de objectos que os homens têm em vista no sentido de atingirem a mais elevada satisfação, revela bem que este desejo existe sem que o seu verdadeiro objecto, útil, utilitarista e prático [de felicidade], lhe seja claramente dado: "Todos querem ser felizes, mas nem todos procuram viver do único modo que permite viver feliz" através do amor a Deus: "quem sabe amar-se, ama a Deus".
Kant pegou nesta ideia de Santo Agostinho e desenvolveu-a com requinte.
1. O desejo humano em relação aos objectos do mundo (o tal "direito à felicidade" que implica uma conduta interessada) não é compatível com a ética e com a moral, a não ser por puro acidente - se for uma motivação sensível (o desejo) a comandar o estabelecimento de uma norma (lei positiva ou regra moral), então qualquer mudança no objecto de desejo e de satisfação implica ipso facto uma reviravolta da conduta.
2. O "direito à felicidade" não se pode traduzir em uma lei prática ou regra moral. A ideia que cada ser humano tem de "felicidade" é uma ideia absoluta - que satisfaz em sumo grau o máximo de inclinações no decurso de uma duração indeterminada. Porém, o que acontece na realidade concreta, é que a experiência humana da satisfação das inclinações individuais, é fragmentária, contingente e parcial. Logo, existe uma contradição entre a exigência de felicidade, por um lado, e a experiência humana concreta relativamente ao conhecimento dos elementos que a produzem, por outro lado. Ou seja: para que o homem pudesse ser feliz, teria que ter ao seu dispor exactamente o oposto do conhecimento empírico e contingente dos meios para satisfazer a exigência de felicidade: o ser humano teria, neste caso, que ser Deus - o que é uma impossibilidade objectiva.
Os homens querem ser felizes, mas não sabem exactamente o que querem para ser felizes - Kant corrobora Santo Agostinho -, exigência que apenas a religião, mesmo nos limites da razão, pode satisfazer.
Uma vez que a ética deve ser universal (a ética é para todos), e que o direito não deve reduzir a norma ao facto, o "direito à felicidade" de cada um não pode fundamentar uma regra moral (ou parte dela) nem uma lei positiva. O "direito à felicidade" é um ideal de imaginação (de cada indivíduo), e não um ideal da razãoO "direito à felicidade da sociedade" é uma ficção. Uma regra moral é apenas objectivamente válida na ordem prática - da mesma forma que uma lei positiva é válida na ordem teórica - na medida em que uma regra moral se impõe sem condições contingentes e subjectivas (ou seja, uma regra moral, sendo universal, não pode depender da experiência isolada, das ficções e dos ideias de imaginação dos indivíduos).
O que está a acontecer na sociedade europeia (e não só) é uma tentativa de destruição do Estado de Direito através da pulverização das normas legais, reduzindo-as aos factos. E é sobretudo uma tentativa de destruição da ética através de uma atomização da sociedade, traduzida na recusa da universalidade da ética sob pretexto de que "cada indivíduo tem o direito" de ver o seu "direito à felicidade" traduzido nas regras morais, transformando a ética exactamente no seu contrário. E quem está por detrás desta tentativa da destruição do direito e da ética, são os promotores dos novos totalitarismos que se anunciam.
Primeiro, o movimento revolucionário mais radical atomiza a sociedade; depois, com o pretexto de unir a sociedade, impõe um totalitarismo. É uma política de terra queimada em que o "direito à felicidade" é apenas umslogan dos mais sórdidos e perversos.