Divinity Original Sin - The board game

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Discurso de Santos, Farc e Chávez

Na parte venezuelana que faz fronteira com a Colômbia, militares que guardam o posto de controle sabem, afirmam e mostram um mapa onde estão 12 acampamentos das FARC protegidos por Chávez.

Mais uma vez, eu abro a edição de hoje com um comentário postado por este sem-fim de ghosts que 
perambulam pela rede como zumbis, porque quero que meus leitores se divirtam um pouco também, afinal, nem só de notícias macabras se nutre este blog. Segue o comentário "anônimo", que está transcrito ipsi literis, e depois minha resposta a ele (ou ela, quem sabe?):

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Viva Colômbia! Santos já é Presidente!":
Sr. Graça Salgueiro,
Por favor, defina logo pra quem a senhora trabalha, se é para CIA, para o Uribe ou para o Exercito Colombiano.
Aliás, eu teria um uso mais profilático para essa carta do Uribe que a senhora ostenta

Em primeiro lugar, a frase com um verbo no imperativo significa um ordem - "defina logo" - mas não recebo ordens de nenhum Zé-ninguém que sequer tem coragem de se identificar, e nem "logo" nem nunca. Em segundo lugar, lamento deixá-lo(a) roendo as unhas de curiosidade para saber para quem trabalho porque isto é absolutamente sigiloso; só quem sabe sou eu e Deus.
Quanto ao "uso profilático" da carta de Uribe, bem, você deve estar se torcendo de inveja porque não foi você quem recebeu, daí menosprezá-la.
Aliás, eu sou a única pessoa no Brasil que tem uma carta de um grande estadista como Uribe, elogiando meu modesto trabalho, e fui tratada na Colômbia com muitíssima distinção em todos os lugares onde fui.
Agora, para acalmá-lo(a) um pouquinho e baixar (ou aumentar?) seus níveis de pressão e colesterol, informo que nunca corri atrás de prestígio ou prêmios de jornalismo até porque não sou graduada nesta profissão, como todos sabem. Uribe me escreveu - em nome de todos os colombianos - porque, ao contrário dos brasileiros, reconheceu o valor do trabalho que faço. Gostou?
Bem, esta já é uma página virada, até que apareçam outros dementes com a mesma cantilena. Aliás, essa coisa que rotular todo mundo como "agente da CIA" é coisa do Guevara e do Fidel, e é tão velha quanto andar para a frente. Deus do céu...
Quero agradecer, de coração, àqueles leitores que anonimamente fazem uma contribuição mensal - tão certa quanto o nascer do dia - a este blog, pois foi através deles que pude comprar uma quantidade imensa de livros na Colômbia e que me custariam o triplo do preço se mandasse buscar do Brasil; muitos deles, certamente, eu não poderia comprar. Além disso, alguns talvez nem chegassem, como a carta de Uribe que até hoje os Correios não me entregaram. Deus lhes pague e lhes aumente abundantemente em Graça e prosperidade!
Mas vamos ao que interessa. Tenho lido muitos comentários de "analistas políticos" acerca de Juan Manuel Santos, afirmando que ele é a continuidade de Uribe e que quem votou nele na realidade estava dando seu voto ao terceiro mandato do atual presidente. Discordo veementemente. Santos não tem nenhuma semelhança com Uribe, quer seja em temperamento, quer seja em questões diplomáticas e até mesmo nas profissões. Uribe é advogado, daí seu senso de justiça tão aguçado e seu desejo incontrolável de fazer as coisas certas. Santos é administrador de empresas e economista, tem uma visão empresarial de mundo e é, digamos, mais flexível em termos de negociações.
A única coisa que ele não negocia é com o terrorismo, sobretudo dos ousados criminosos das FARC, como deixou bem claro em seu discurso que publico no final desta edição apenas a parte em que fala disso, porque foi muito longo, com mais de uma hora.
Santos herda do presidente Uribe um programa muito exitoso, o Plano de Segurança Democrática, que está devolvendo a seus compatriotas e sobretudo aos investidores estrangeiros, a segurança de ir e vir, a confiança de que o terrorismo não vai mais dominar as ruas mas, sobretudo, o respeito e admiração por suas Forças Militares e Policiais. Quando Santos agradece em seu discurso e pede aplausos a estes homens fardados, a platéia delira e aplaude com sincera gratidão.
Como este campo já está consolidado, sobrará a Santos tempo e recursos para investir mais em outros setores da sociedade, e que ele entende bem, como saúde, educação e promoção junto às empresas de mais emprego formal.
Aliás, a informalidade econômica em Bogotá é uma coisa assombrosa. Os ambulantes vendem de tudo, até alugam celular nas ruas para quem necessita fazer uma chamada de urgência e, embora me agrade a informalidade, onde cada um seja dono do seu nariz, não há país que se sustente sem arrecadar impostos e isto só é possível com empregos e empresas formais.
No dia da eleição do segundo turno, as Forças Militares e Policiais trabalharam incessantemente para que todos pudessem ir votar com tranqüilidade, mas os inimigos da liberdade, da lei e da ordem tentaram impedir que as coisas ocorressem em paz. No norte de Santander elementos do ELN armaram uma emboscada na qual 7 policiais morreram. Em outra localidade, elementos das FARC destruíram uma torre de energia mas, ainda assim, esses heróis anônimos garantiram que a população pudesse votar em outro local e restabeleceram a torre danificada.
Na madrugada do domingo dois cabeças das FARC foram abatidos em operações executadas por tropas do Exército e unidades da Força Aérea, nos estados de Meta e Córdoba. Em Meta foi abatido "Heliodoro", segundo cabeça da frente 53 e chefe de finanças da quadrilha, que era acusado de haver cometido inúmeros ataques terroristas e encarregado de extorquir e seqüestrar reconhecidos industriais e empresários de Bogotá e Villavicencio. Ele também era acusado de planejar e dirigir o ataque ao aqueduto de Villavicencio em março do ano passado, que deixou a capital Meta sem água por várias semanas.
Tropas do Comando Conjunto Caribe desembarcaram no município de Puerto Libertador, Córdoba, local onde a Força Aérea localizou e neutralizou um acampamento terrorista da frente "Mario Vélez" das FARC, onde foi dado baixa a Ernesto Vargas Arias, cognome "Muelas". Este elemento era acusado de planejar e participar do ataque a uma igreja em Bojayá, Chocó, onde morreram 119 pessoas, dentre elas 40 crianças que estavam lá dentro com o pároco e suas mães tentando se proteger do infame assalto à cidade em 2 de maio de 2002.
Esse trabalho das Forças Militares e Policiais é incessante e absolutamente exitoso, mas no Brasil ninguém quer perceber que cada vitória da Colômbia contra as FARC, significa um pouco de droga a menos a envenenar e matar nossos jovens e crianças que enveredam pelo caminho fácil do narcotráfico.
Notícias bem recentes dão conta que Alfonso Cano, chefe máximo das FARC que substituiu Tirofijo, está com a saúde comprometida em decorrência de um problema cardíaco produzido por enfermidades tropicais, e teria ido visitar uma clínica venezuelana para se consultar. Nessa consulta também teria ido buscar medicamentos para "Mono Jojoy", que é diabético e está quase imobilizado pelo agravamento da doença. Por esta razão, estaria "bem guardado" entre as árvores fronteiriças. Embora como cristã eu não devesse dizer isto, mas seria muito bom ver a Colômbia limpa, livre de tão peçonhentas criaturas!
No Brasil ninguém informa nem ninguém quer saber, sobretudo nesse período de Copa do Mundo, mas todo dia chegam informes do debilitamento militar das FARC com baixas em combate, ou incontáveis guerrilheiros que se desmobilizam porque vêem que os militares e o governo querem ajudá-los a viver como gente, com uma vida normal. Com os chefes doentes e com o cerco se fechando cada vez mais e mais, os guerrilheiros pés-de-chinelo estão passando fome, não conseguem se comunicar com seus chefes e a exposição aos ataques militares estão fazendo com que se entreguem e denunciem os planos de destruição dos terroristas. A Operação Camaleão, por exemplo, contou com informação dos desmobilizados, informações valiosíssimas e que estão levando ao fim da guerrilha.
Enquanto isso, na parte venezuelana que faz fronteira com a Colômbia, militares que guardam o posto de controle sabem, afirmam e mostram um mapa onde estão 12 acampamentos das FARC protegidas por Chávez, cuja polícia tem conhecimento mas não pode fazer nada. Logo abaixo do vídeo do discurso de Juan Manuel Santos, não deixem de ver a reportagem feita por jornalistas independentes relatando isto.
Na próxima edição falo outra vez da Venezuela - se não houver alguma outra notícia espetacular da Colômbia - e das últimas aberrações de Chávez em perseguição a seus desafetos. Não tendo provas de crimes cometidos contra os donos da Globovisión, Chávez agora solicitou apoio da Interpol para "capturar" como bandidos a Guillermo Zuloaga e seu filho. Mas isto fica para outra edição.
Fiquem com Deus e até a próxima!



quarta-feira, 23 de junho de 2010

É o fim... Cuba eleita vice-presidente do Conselho dos Direitos Humanos

Fonte: http://www.granma.cu/portugues/internacionais/22junio-electa.html

GENEBRA. — Cuba foi eleita, em 21 de junho, vice-presidente do Conselho dos Direitos Humanos (CDH), o órgão principal das Nações Unidas especializado na promoção e na proteção deste tema, noticiou a PL.
Durante uma sessão organizativa anual desta instância, seus membros decidiram por aclamação a eleição do embaixador cubano em Genebra, Rodolfo Reyes Rodríguez, para o cargo, o que foi considerado um reconhecimento ao trabalho da Ilha no setor.
“A eleição de Cuba para este importante cargo é um reconhecimento à exemplar execução e à obra da Revolução cubana a favor dos direitos humanos de seu povo e de todo o mundo”, precisa uma declaração da Embaixada cubana em Genebra.
“É, também, uma clara confirmação do respeito ao desempenho comprometido e ativo de nosso país — membro fundador do CDH — em defesa da verdade e da justiça e a sua liderança na reivindicação das causas mais nobres”, acrescenta.
Precisa a nota que “esta eleição constitui uma rotunda resposta da comunidade internacional à brutal campanha política anticubana na mídia, reforçada nos últimos meses pela reação internacional”.
Reyes, que ocupará a vice-presidência correspondente ao Grupo da América Latina e o Caribe (Grulac), cumprirá seu mandato como membro da Mesa Diretiva do Conselho, até junho de 2011.
O embaixador da Tailândia, Sihasak Phuangketkeow, foi eleito para presidir o órgão no mesmo período. Segundo a prática, cabe aos membros da Mesa conduzir o processo de revisão do CDH, que terá lugar nos próximos 12 meses de trabalho.
“Cuba contribuirá substancialmente para este trabalho, a partir de sua ampla experiência como membro do órgão e da desaparecida Comissão dos Direitos Humanos”, aponta a nota.

domingo, 20 de junho de 2010

GOVERNO LULA CENSURA PORTAL NA INTERNET QUE TRAZIA DADOS DO PAÍS REAL, NÃO DAQUELE VENDIDO PELA PROPAGANDA


O decálogo de problemas que segue abaixo poderia se um roteiro utilizado pelos candidatos de oposição José Serra (PSDB) ou Marina Silva (PV). Mas não é —  ou NÃO ERA. Ribamar Oliveira, do jornal Valor Econômico, colheu essas avaliações num portal oficial, do próprio governo (ver post de ontem). Antes que prossiga, uma síntese:
1 - a política de reforma agrária do governo Lula não alterou a estrutura fundiária do país nem assegurou aos assentamentos assistência técnica, qualificação, infra-estrutura, crédito e educação;
2 - a qualidade dos assentamentos é baixa;
3 - os programas oficiais não elevam a renda dos agricultores, que ficam dependendo do Bolsa Família;
4 - imposições da legislação trabalhista no campo acabam provocando fluxo migratório para as cidades;
5 - a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda não definiu uma política de curto ou médio prazo para a formação de um estoque estratégico e regulador de produtos agrícolas.
6 - em futuro próximo, a produção de biodiesel não será economicamente viável;
7 - a reconstrução de uma indústria nacional de defesa voltada para o mercado interno, prevista na Estratégia Nacional de Defesa, não se justifica;
8 - a educação brasileira avançou muito pouco e apresenta os mesmos índices de 2003 em várias áreas:
9 - é baixa a qualidade da educação em todos os níveis; os que concluem os cursos não têm o domínio dos conteúdos, e as comparações com indicadores internacionais mostram deficiências graves no Brasil;
10 - O analfabetismo funcional, entre jovens e adultos, está em 21% na PNAD de 2008, uma redução pequena com relação à PNAD de 2003, que era de 24,8%. O número absoluto de analfabetos reduziu-se, no mesmo período, de 14,8 para 14,2 milhões, o que aponta a manutenção do problema.
Essas informações todas estavam no “Portal do Planejamento”, criado pela Secretaria de Planejamento e Investimento Estratégico (SPI), tarefa que durou um ano e meio. E QUE SUMIU EM UM DIA. Bastaram uma ordem e um clique. É isto mesmo: o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) mandou tirar o site do ar. Eram cerca de 3 mil páginas abordando 52 temas.
Bernardo justificou assim a censura em entrevista à rádio CBN:
“Vários ministros me ligaram para dizer: ‘Olha, estão fazendo críticas às políticas desenvolvidas pelo meu ministério, mas nós não fomos chamados a discutir’. Ficamos numa posição um pouco delicada de explicar que aquilo não era posição fechada do Planejamento; são técnicos fazendo debate.”
Entendo… o ministro convocou uma reunião para segunda-feira com os responsáveis pelo Portal:
“Me parece que um site para discutir políticas de governo deve ter um nível de acesso para quem é gestor, outro para quem é jornalista e outro para o público em geral”.
Deixe-me adivinhar como seria essa gradação e o produto oferecido a cada um:
- ao gestor, a verdade;
- ao jornalista, uma quase verdade;
- ao público,  o de sempre…
Vamos compreender
É evidente que nenhum governo gosta de ser criticado pelo… próprio governo. Não me atrevo a dizer que este ou aquele não agiriam assim. Aliás, acho curioso que um portal dessa importância vá ao ar sem o conhecimento do chefe da pasta. A questão aí não é matéria de gosto, não.
O que o portal revela é que existem dois Brasis: aquele real, conhecido pelos técnicos do governo, que veio a público por um breve instante, e o outro, o de propaganda, este de novas auroras permanentemente anunciadas pelo governo, ancorado numa verba bilionária de propaganda.
Como se nota, Paulo Bernardo acha que é preciso trabalhar com “níveis” de acesso, como se aqueles informações não fossem dados sobre políticas públicas, mas matéria de “segurança nacional”. Informações relevantes, pois, para orientar tais políticas passariam a ser privilégio de uma espécie de casta.
Nunca antes na história destepaiz!!!

terça-feira, 15 de junho de 2010

ARTIGO NO WALL STREET JOURNAL ARRASA COM A POLÍTICA EXTERNA DE LULA E O ACUSA DE “DANÇAR COM OS DÉSPOTAS”

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/artigo-no-wall-street-journal-arrasa-com-a-politica-externa-de-lula-e-o-acusa-de-dancar-com-os-despotas-seguem-comentario-e-traducao/

Mary Anastasia O’Grady, uma das mais respeitadas articulistas do Wall Street Journal, escreveu nesta segunda um dos mais duros artigos já publicados na imprensa americana sobre a política externa brasileira. Título: “A dança de Lula com os déspotas”.
O’ Grady não deixa pedra sobre pedra da política externa brasileira e acusa Lula de ter desperdiçado a chance de o Brasil ocupar um lugar com o qual sempre sonhou justamente quando estava prestes a alcançá-lo: “President Lula da Silva is snatching defeat from the jaws of victory”.
Segundo o O’Grady, a política externa brasileira tem sido usada por Lula como fator de ajuste para contentar as alas radicais do PT. Trata-se de um escudo para acomodar essas correntes, que, não obstante, são mantidas longe da economia. E vai ao ponto: o Brasil não está pronto para ser um protagonista na política internacional. A articulista classifica Amorim de “antiamericano e anticapitalista”. Huuummm, boa parte do que vai abaixo, como vocês verão, não nos é estranho. Segundo O’ Grady, para satisfazer as esquerdas, Lula agrediu gravemente a reputação do Brasil ao se colocar ao lado de alguns dos mais notórios violadores dos direitos humanos no mundo.
O fato é o seguinte: a ficha definitivamente caiu. Segue uma tradução que fiz, adaptando algumas expressões a que recorre a articulista a seu sentido em nossa língua e em nossa cultura. Com mais tempo, dá para melhorar muito. Mas acho que está eficiente.
*
Desde que fomos expulsos do Éden, o Brasil sonha tornar-se um país sério e um protagonista no cenário mundial. Agora, quando este sonho eterno estava se tornando uma realidade, Lula consegue fazer de uma vitória uma derrota ["is snatching defeat from the jaws of victory]. O Brasil pode estar ganhando algum respeito no front da economia e da política monetária, mas, quando se trata da liderança geopolítica, o presidente está fazendo um esforço adicional para preservar a imagem de um país ressentido, um cachorrinho ranheta do Terceiro Mundo [Third-World ankle-biter].
O mais recente exemplo de como o Brasil ainda não está pronto para figurar no horário nobre dos círculos internacionais se deu na semana passada, quando votou contra as sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU. A Turquia foi a única parceira do Brasil neste constrangedor exercício. Mas a Turquia pode ao menos usar como desculpa suas raízes muçulmanas. Lula está levando a reputação do Brasil para o brejo [no Brasil, a gente diz assim; Mary prefere "areia"] só para a sua satisfação política pessoal.
O Brasil defendeu seu voto argumentando que “as sanções muito provavelmente levarão sofrimento ao povo do Irã e conduzirão o processo às mãos daqueles que, dos dois lados [da disputa], não querem que o diálogo prevaleça. É um argumento sem nada dentro. As sanções não têm como alvo os civis, mas as ambições nucleares do Irã e seu programa de mísseis. Quanto ao diálogo, é óbvio que, agora, o presidente Mahmoud Ahmadinejad precisa é de um pouco menos de conversa.
Se o Brasil considerou seu voto uma posição de princípio em defesa do que considera justo, é certo que mudou depressa. Depois de ter feito estardalhaço com as sanções, rapidamente anunciou que vai honrá-las. Isso sugere que pode ter avaliado a possibilidade de sair aos poucos de sua política externa lunática.
O Partido dos Trabalhadores de Lula é de esquerda, mas NÃO se deve confundi-lo [Lula] com um aplicado bolchevique. Ele é simplesmente um político esperto, que veio do povo ["das ruas", no texto de Mary] e ama o poder e o luxo [ela escolhe a metáfora "limousines"; no Brasil, só usadas pelas noivas...]. Como primeiro presidente brasileiro do Partido dos Trabalhadores, ele teve de equilibrar as coisas úteis que aprendeu sobre os mercados e as restrições monetárias com a ideologia de sua base de apoio.
Sua resposta para esse dilema tem sido usar a Ministério das Relações Exteriores  — onde uma burocracia geneticamente tendente à esquerda é conduzida por Celso Amorim, um intelectual notoriamente antiamericano e anticapitalista — para lustrar suas credenciais esquerdistas. Essa amizade com os “não-alinhados” tem servido de justificativa para manter os ideólogos coletivistas fora da economia.
Mas a reputação do Brasil como um líder das economias emergentes sofreu enormemente. Para satisfazer a esquerda, Lula tem sido chamado a defender e exaltar os seus [da esquerda] heróis, que são alguns dos mais notórios violadores dos direitos humanos do planeta.
Uma análise de seus dois mandatos revela uma tendência para defender déspotas e desprezar democratas. O repressivo governo do Irã é apenas o caso mais recente. Há também o apoio incondicional de Lula à ditadura de Cuba e à Venezuela de Hugo Chávez. Em fevereiro, Cuba permitiu que o dissidente político Orlando Zapata morresse de fome, na mesma semana em que Lula chegou à ilha de escravos para puxar o saco dos irmãos Castro. Quando indagado pela imprensa sobre Zapata, Lula desqualificou sua morte como  maius uma  das muitas greves de fome que o mundo ignorou. Ele certamente nunca ouviu falar do militante irlandês Bobby Sands.
Lula também ficou ao lado de Hugo Chávez quando este destruiu as instituições democráticas em seu país e colaborou com o tráfico de drogas das Farc. Um Brasil maduro teria usado sua influência para fazer recuar o terrorismo de estado. Porém, na política de custo-benefício de Lula, as vítimas das Farc não contam.
Honduras não teve melhor sorte na era Lula. O Brasil passou boa parte do ano passado tentando forçar aquele país a reempossar o deposto presidente Manuel Zelaya, apear de ele ter sido removido do poder pelos civis por ter violado a Constituição. As ações brasileiras, incluindo o abrigo a Zelaya na embaixada brasileira por meses, criou imensas dificuldades econômicas para os hondurenhos.
Na semana passada, Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA, conclamou à volta de Honduras à Organização dos Estados Americanos (OEA), observando que o país realizou eleições e voltou à normalidade. O Brasil objetou. “A volta de Honduras à OEA tem de estar ligada a questões como democratização e restabelecimento de direitos fundamentais”, disse Antonio de Aguiar Patriota, braço-direito do ministro das Relações Exteriores. Uma questão ao Brasil: estaria ele se referindo a Cuba?
O Brasil vai realizar eleições presidenciais em outubro, e, apesar da popularidade com que Lula vai deixar o poder, não é garantido que a candidata do Partido dos Trabalhadores vá sucedê-lo. Então Lula está oferecendo sangue [red meat] à base partidária ao pegar  na mão de Arhmadinejad e votar contra o Tio Sam.
Vai funcionar? Em grande parte vai depender se os que o vêem como aquele que levou o Brasil a desperdiçar uma grande chance estarão em maior número do que os que apóiam a sua dança com os déspotas. Como advertiu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a política de Lula leva o Brasil a ficar mudando de lado, mas não está claro se os brasileiros estão de acordo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Por que todos odeiam Israel?

Fonte:http://blogdomrx.blogspot.com/2010/06/por-que-todos-odeiam-israel.html

Se é verdade que "os sionistas controlam a mídia", como se explica que esta seja tão fanaticamente anti-Israel? Nenhum outro país é tão vigiado, tão vilipendiado, tão acusado. Se os "sionistas" de fato controlam os meios de comunicação, estão fazendo um péssimo serviço.

Há uma guerra civil no Congo que dura até hoje e que já matou mais de cinco milhões de pessoas em poucos anos. É a guerra com maior número de vítimas desde a II Guerra mundial. Ninguém se importa. Ninguém vai levar medicamentos, água ou comida para esses pobres desgraçados. Não vai haver nenhuma "frota da paz" nessa direção. Ninguém vai comentar em blogs.

Putin matou duzentos mil muçulmanos chechenos. Houve uma única jornalista que protestou, e terminou suicidada com dois tiros. Quanto ao resto da mídia, silêncio.

Os jordanianos mataram em um só mês (Setembro Negro) dez vezes mais palestinos do que os israelenses em 40 anos. Mesmo hoje, morrem mais muçulmanos nos conflitos sunitas versus xiitas do que no conflito com Israel. Mas se árabe mata árabe, ninguém se importa. 

Há menos de um mês, um barco sul-coreano foi torpedeado e morreram 46 pessoas, e ninguém está "indignado".

Por que alguns mortos valem mais do que outros?




 Agora temos o caso da tal "frota da paz". Eis seus pacíficos passageiros.

É verdade, nem todos na frota eram dessa laia. Alguns eram apenas idiotas úteis, candidatos ao troféu principal dos Darwin awards (quem mais iria para uma zona de guerra fazer "turismo de protesto"?)

Claramente, tratava-se de uma armadilha. Israel não tinha como vencer: se deixasse os barcos passarem, perdia a moral e a segurança. Se afundasse os barcos, mesmo estando de acordo com a lei internacional (*), o país seria crucificado.

Os israelenses optaram pela opção, a meu ver equivocada, de revistar o barco com soldados, os quais foram recebidos a pauladas, como bem mostra o vídeo no post anterior. Algumas dezenas de soldados contra uma massa humana tentando linchá-los. Nessas condições, o confronto foi inevitável.

O problema poderia ter sido resolvido sem a abordagem, com tiros de advertência de um canhão, seguidos de tiros reais caso o navio continuasse. O escândalo midiático seria provavelmente o mesmo, mas não se colocaria em risco a vida de soldados, e talvez houvesse menos vítimas, já que os caídos ao mar poderiam ser resgatados.

A imagem de Israel sai arranhada, e não podia ser diferente. Israel está virando, para a mídia, a nova África do Sul. Não, não faço aquela velha e gasta comparação com o sistema do apartheid, que era algo totalmente diferente ao que ocorre hoje no Oriente Médio. Mas o país recebe internacionalmente a mesma tentativa de desqualificação total. Assim como todos estavam contra a África do Sul nos anos 80, hoje todos estão contra Israel.

Curiosamente, foi nesta mesma semana que saíram notícias sobre um suposto acordo secreto entre Israel e África do Sul, no qual Israel teria tentado (sem sucesso) vender armas nucleares ao país africano. Logo depois soube-se que as notícias eram falsas, mas não poderia ser mais clara a tentativa de igualar os dois países como párias da humanidade (ou, alternativamente, bodes expiatórios da Sempre Boa "comunidade internacional").

Israel e a velha África do Sul, na verdade, têm muito pouco em comum no que se refere à organização política, até porque Israel é uma sociedade democrática e  multiracial. (E se Israel negociava com a África do Sul, era porque o bloqueio árabe deixava poucas outras opções.)

Mas, de certo ponto de vista, a antiga África do Sul e Israel podem ter sim ao menos uma coisa em comum. Se Israel pode ser visto, dependendo da ideologia, tanto como opressor de pobres palestinos ou como um minúsculo país judeu cercado por milhões de inimigos árabes, da mesma forma a África do Sul poderia ter sido vista, não só como um país de brancos malvados oprimindo negros, mas também como um país onde uma minoria branca estava cercada por milhões hostis de maioria negra.

(Não estou apoiando o apartheid, que fique claro: só observando a disparidade das populações, entre judeus e árabes em um caso, e entre brancos e negros do outro, e o ódio entre ambos. É verdade também que o desgosto da mídia é seletivo. Imagine um sistema no qual os brancos sejam oprimidos e expulsos de suas terras, quando não mortos, e pergunte-se se ocorreria o mesmo escândalo. Pois esse país existe, chama-se Zimbabwe. Imagine um ou mais países onde os judeus sejam expulsos à força e percam todas as suas propriedades. Também existem, são os países árabes após 1948. Ninguém liga.)

Bem, fora isso, é claro que o apartheid era um sistema opressivo de separação racial que pouco ou nada tem a ver com o que ocorre em Israel, onde o conflito é bem outro e tem origens territoriais e religiosas muito antigas. A similitude está no fato de que, assim como negros e brancos ainda não se dão bem na África do Sul, e alguns até acham que as relações pioraram, muçulmanos e judeus continuarão a se odiar enquanto o conflito por terras e religião continuar.

Pode cantar musiquinha, pode fazer propaganda, pode tentar macumba. O problema não vai se resolver. Há certas questões que são insolúveis mesmo por canais diplomáticos, e mandar "frotas da paz" só atrapalha. Embora talvez seja essa a intenção.

Alguns dirão que a propaganda dos islâmicos venceu, que este é o "Eldorado dos Carajás" israelense. Não importa. Para todos os efeitos, a hora das Relações Públicas acabou. Não interessa mais o que os intelectuais suecos pensem de Israel. O país enfrenta o momento mais delicado desde 1948, com Hizbollah superarmado ao norte, Hamas dominando Gaza ao sul, e a possibilidade de um Irã atômico que fala abertamente em aniquilar o país sob aplausos da comunidade internacional. Agora até a ex-aliada Turquia ameaça se virar contra, e os EUA de Obama tampouco são muito amigos, tendo cancelado uma série de auxílios ao país. Não há mais tempo para posar de bonzinho. É bala na agulha. É Israel contra todos.

Se acham que exagero, basta olhar a repercussão midiática de qualquer evento envolvendo Israel. O país jamais será visto com bons olhos. Até a ajuda que deu durante o terremoto no Haiti foi criticada por alguns (diziam que os sionistas estavam lá para roubar órgãos). Que África do Sul o quê - suspeito que nem a Alemanha nazista foi tão odiada em seu tempo. O ódio contra Israel é irracional, já que o conflito Israel vs. palestinos é um conflito menor, que não tem demasiada importância geopolítica, que não afeta quase ninguém fora daquela limitada região (fora os judeus mortos em atentados terroristas islâmicos em outras cidades) e que nem causou, proporcionalmente, tantas vítimas quanto outros conflitos muito mais sangrentos. Mais muçulmanos são mortos todo ano por muçulmanos do que os que Israel jamais matou. Morrem mais pessoas em um fim de semana nas guerras do tráfico no Rio do que em Gaza. Mas, contra um vendaval de ódio, é inútil argumentar.

Sinceramente, não sei de onde vem todo esse ódio. Poucos se importam se Sri Lanka massacra os tamis, se os Chineses reprimem os tibetanos, ou se os turcos eliminam os curdos. Esses três povos vitimizados tem tanta ou mais "legitimidade" para ter um estado próprio do que os palestinos, que não é uma etnia específica e é um termo que não existia antes de 1967. Mas ninguém se importa muito com eles.

Não, Israel não é perfeito. Muitas vezes erra mais do que acerta. Ultimamente tem cometido algumas trapalhadas, e seus políticos metem os pés pelas mãos. Pode-se argumentar que cometeu vários ataques desnecessários e até crimes de guerra. É válido criticar suas políticas, assim como as de qualquer outra nação. O país não é santo -- mesmo porque não têm opção de ser. Ou resiste, ou é destruído. E não se enganem: esse é o objetivo de seus inimigos. Destruir o país, aniquilar sua população, e colocar toda a área sob controle islâmico.

É claro que alguns ficariam felizes com a destruição de Israel, assim como ficariam felizes com a destruição dos EUA, ou mesmo de todo o odiado Ocidente. A esses, tudo o que se pode dizer é: cuidado com o que deseja, pois poderá se tornar realidade. O resultado vai ser muito pior do que você pensa.

(*) Lei Internacional:
12 June 1994
SECTION V : NEUTRAL MERCHANT VESSELS AND CIVIL AIRCRAFT
Neutral merchant vessels
67. Merchant vessels flying the flag of neutral States may not be attacked unless they:
(a) are believed on reasonable grounds to be carrying contraband or breaching a blockade, and after prior warning they intentionally and clearly refuse to stop, or intentionally and clearly resist visit, search or capture.

 Sansão, o primeiro terrorista suicida.

EXTRA! LULA É MOTIVO DE GOZAÇÃO EM PROGRAMA DE HUMOR NA TV DE ISRAEL

Fonte: http://aluizioamorim.blogspot.com/2010/06/extra-lula-e-motivo-de-gozacao-em.html

Quinta-feira, Junho 03, 2010


EXTRA! LULA É MOTIVO DE GOZAÇÃO EM PROGRAMA DE HUMOR NA TV DE ISRAEL. VEJAM:

É o grande líder mundial pagando mico em programa de humor da televisão israelense. Isso é apenas o começo. Lula e seus petralhas envergonham o Brasil. Destruiram a diplomacia brasileira que teve entre seus quadros o grande Oswaldo Aranha que presidiu a Assembléia Geral da ONU que deu vida ao Estado de Israel.
Antes de Lula a diplomacia brasileira gozava de respeito internacional. Hoje é motivo de chacota num dos países mais desenvolvidos e democráticos do mundo que é Israel. Aliás, a única democracia do Oriente Médio.
Lula quando por lá esteve depositou uma coroa de flores no túmulo do terrorista Yasser Arafat, para depois ir se abraçar com Ahmadinejad no Irã.
Agora é motivo de chacota em programa de humor, como nunca antes na história deste país.
Se querem comparar o governo de Lula com o de Fernando Henrique Cardoso, tudo bem. Só este vídeo mata a pau.
Alô Gonzales! Eis aí um ótimo material de campanha!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Relembrando: 5 mistérios e uma certeza


FONTE:  http://antiforodesaopaulo.blogspot.com/2010/06/relembrando-5-misterios-e-uma-certeza.html

 quarta-feira, 2 de junho de 2010


Relembrando: 5 mistérios e uma certeza

Celso Daniel e Carlos Delmonte (nos destaques): trama com assassinatos, enganos, corrupção, sexo, romance...

Os bastidores do caso Celso Daniel, o crime
com elementos de romance policial que
provoca calafrios na cúpula do PT

João Gabriel de Lima


O cadáver de Celso Daniel, que jaz embalsamado no Cemitério da Saudade, em Santo André, ainda assombra o PT. Nos últimos dois meses, os dois irmãos do prefeito assassinado, João Francisco e Bruno Daniel, depuseram na CPI dos Bingos. Voltaram a bater na tecla de sempre – a de que dois petistas de alto coturno, José Dirceu e Gilberto Carvalho, puxavam os fios do esquema de corrupção que se instalou em Santo André. Nos próximos dias os irmãos serão colocados frente a frente com Gilberto Carvalho em uma acareação promovida pela CPI. Essa idéia provoca calafrios até no presidente da República – Lula declarou recentemente que a CPI dos Bingos estaria "perdendo o foco". Na quarta-feira passada, mais um morto se juntou à pilha de cadáveres de alguma forma relacionados com o caso. Carlos Delmonte Printes, médico-legista que fez a autópsia de Celso Daniel e constatou marcas de tortura, foi encontrado sem vida em seu escritório. Até sexta-feira o episódio ainda intrigava a polícia e o Ministério Público. O exame pericial descartou causas naturais como um ataque do coração, mas também não havia marcas de violência que sustentassem a hipótese de assassinato.
O crime que vitimou o prefeito petista, seqüestrado na noite de 18 de janeiro de 2002 e morto na tarde do dia seguinte, tem todos os ingredientes de um romance policial. Mistério, pistas falsas, sexo e luta pelo poder. A trama, no entanto, segue uma dinâmica peculiar: procura-se um assassino e, no lugar dele, são encontrados corruptos. Reduzido à sua essência, o caso se compõe de dois crimes. O primeiro é o assassinato do prefeito em si. O segundo, o esquema de corrupção formado na cidade que ele administrava. Há fortes indícios de que haja uma conexão entre ambos, mas não apareceu até agora uma prova definitiva. O primeiro crime, o assassinato, ainda está longe de ser solucionado. A polícia identificou e prendeu os integrantes da quadrilha que, na noite do dia 18, em São Paulo, seguiu o Mitsubishi Pajero onde estavam o prefeito e seu amigo Sérgio Gomes da Silva, rendeu-os, seqüestrou Celso Daniel e o abandonou no dia seguinte numa estrada, já sem vida e com marcas de tortura. Não é possível afirmar com certeza se houve um mandante. Suspeito de ser o arquiteto da ação, o empresário Sérgio Gomes da Silva teve prisão preventiva decretada e passou sete meses na cadeia. Foi solto em julho do ano passado por falta de provas. Já sobre o segundo crime, a propina que o PT cobrava de empresas que prestavam serviços à prefeitura, não há dúvidas. É um dos poucos casos de corrupção no Brasil que têm extrato bancário.
Os depoimentos na CPI e as investigações sobre a morte do legista fornecem uma grande oportunidade para esclarecer os mistérios relacionados à morte do prefeito e aprofundar a única certeza – a de que havia roubalheira em benefício do PT em sua administração. Enquanto não se souber exatamente o que aconteceu, o espectro de Celso Daniel continuará a assombrar o PT – assim como aqueles vilões de filmes de terror que morrem no final, mas ressuscitam no episódio seguinte provocando sustos ainda maiores.
A CERTEZA
Corrupção com recibo e extrato bancário
Examinando o caso Celso Daniel com óculos de hoje, pode-se dizer que a cidade de Santo André foi a precursora do mensalão. Na tarde do dia 24 de janeiro de 2002, cinco dias depois do assassinato do prefeito, a empresária Rosângela Gabrilli, dona de uma empresa de ônibus em Santo André, procurou o Ministério Público para fazer uma denúncia grave. Segundo ela, os donos de companhias rodoviárias da cidade eram obrigados a contribuir para uma caixinha do PT. O valor do mensalão seria proporcional à quantidade de ônibus que cada empresário possuía, à razão de 550 reais por veículo. A própria Rosângela, dona da Expresso Guarará, pagava 40.000 reais todos os meses. A empresária apontou três responsáveis pelo esquema de cobrança. Sérgio Gomes da Silva, o "Sombra", melhor amigo do prefeito. Klinger Luiz de Oliveira Sousa, ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André. E Ronan Maria Pinto, sócio de Sérgio em três empresas, ele próprio um dos maiores concessionários do setor de transporte público na cidade. Em plena efervescência da campanha eleitoral, a denúncia foi desqualificada por vários petistas, que viram na atitude de Rosângela indícios de manobra eleitoreira. Mesmo assim, abriu-se uma CPI em Santo André e o Ministério Público foi chamado a investigar o caso.
A prova de que Rosângela falava a verdade veio em abril de 2003. A empresária encontrou no fundo de uma gaveta da Expresso Guarará, de sua propriedade, um fax datado de 30 de dezembro de 1998, em que se informava qual seria o valor da caixinha do mês – 100.000 reais – e qual parte caberia a cada uma das sete empresas de ônibus na cidade. No mesmo fax havia o número da conta bancária de Sérgio Gomes da Silva. Com base no fax, o Ministério Público pediu a quebra do sigilo bancário de Sérgio e constatou que havia depósitos na conta dele, na mesma data, exatamente nos valores discriminados no fax. Segundo Rosângela, a caixinha costumava ser paga em dinheiro vivo, transportado em envelopes – naquele tempo os corruptos ainda não se deixavam apanhar de cuecas recheadas. Em ocasiões especiais, o depósito era feito diretamente na conta de Sérgio Gomes da Silva. Trinta de dezembro, véspera de feriado e dia de folga dos office-boys das empresas de ônibus, era uma dessas ocasiões. Os extratos bancários levantados pelo Ministério Público mostraram que o dinheiro tinha entrada e saída. No histórico da conta de Sérgio, próximo às datas em que ele recebeu o dinheiro, havia vários depósitos em favor de amigos, entre eles Ivone de Santana, a namorada de Celso Daniel na época de seu assassinato. "Era um empréstimo pessoal, Sérgio e eu somos amigos há anos", disse Ivone a VEJA. Assim, a partir da única certeza do caso – a de que havia caixinha político-eleitoral em Santo André – surge o primeiro mistério: quem estava por trás do esquema? E quem se beneficiou dele?
I MISTÉRIO
Quem chefiava a quadrilha que arrecadava dinheiro para o PT em Santo André?
Ronan Maria Pinto, Sérgio Gomes da Silva, o "Sombra", e Klinger Luiz de Oliveira Sousa: testemunhas os apontam como coordenadores do esquema de corrupção em Santo André. Klinger e Ronan escaparam por pouco da cadeia. Sérgio ficou sete meses preso

Durante muito tempo se difundiu a versão de que Celso Daniel foi assassinado porque tentou acabar com o esquema de propina de Santo André. A mais recente virada no caso, em setembro deste ano, trouxe um forte indício de que o prefeito sabia do esquema e se beneficiava dele. O Ministério Público de Santo André localizou uma diarista que prestava serviços ao casal Ivone de Santana e Celso Daniel. Ela concordou em falar desde que seu nome não aparecesse nos autos. Certa vez, durante uma faxina no apartamento, a diarista encontrou três sacos de dinheiro escondidos sob um lençol. No dia seguinte, os sacos não estavam mais lá. "Isso constitui para nós uma prova cabal de que Celso não apenas sabia do esquema como participava dele", diz o promotor Roberto Wider Filho, de Santo André, que investiga o caso desde o princípio. "Até então, o que sabíamos através de depoimentos de amigos e parentes era que o prefeito talvez conhecesse o esquema, mas o tolerava desde que o dinheiro fosse todo para o partido. E teria ficado chateado ao perceber que alguns correligionários se locupletavam."
Fica ainda mais difícil acreditar que Celso Daniel não participava quando se levam em consideração os estreitos laços de amizade entre os petistas de Santo André no tempo da administração do prefeito. Eram como uma quadrilha, no bom sentido do termo – o do poema de Carlos Drummond de Andrade que evoca uma dança. Miriam que amava Celso que amava Ivone que se casou com Michel mas que também amava Celso. Ronan que era sócio de Sérgio que era amigo de Celso que preparava Klinger para ser seu sucessor. Celso que é irmão de Bruno que é casado com Marilena que é amiga de Sérgio.
Ao contrário do que ocorre no poema, os petistas da quadrilha de Santo André têm nome e sobrenome. Miriam Belchior, a primeira mulher do prefeito, Ivone de Santana, sua última namorada, e os irmãos Michel e Maurício Mindrisz, amigos de toda a vida de Celso, se conheceram na adolescência. Eram da turma que freqüentava o boulevard Oliveira Lima, no centro de Santo André, um dos primeiros calçadões do Brasil. Chegaram a cunhar o verbo "boulevardiar", que significava paquerar no calçadão. Celso começou a namorar Miriam Belchior na juventude. Na mesma ocasião, outra moça, Ivone de Santana, se apaixonou por ele. Celso namorava firme uma, mas não desprezava a outra. Quando ele finalmente se decidiu por Miriam, Ivone se casou com Michel Mindrisz, um dos melhores amigos de Celso e filho da dona da loja de roupas onde ela trabalhava. Foram felizes, mas Ivone continuou vendo Celso durante o casamento. Chegou a ter uma filha desse caso extraconjugal, a qual Michel acabou assumindo. Depois que Celso se separou de Miriam, ele e Ivone, já bem mais maduros, voltaram a ter um relacionamento. Essa contradança amorosa é relevante para o caso por uma razão: toda a turma do Boulevard – Ivone, Miriam, Maurício e Michel – ocupou cargos em um ou mais mandatos de Celso Daniel à frente da prefeitura de Santo André (foram três no total, o último inconcluso). O fato ilustra uma característica marcante do estilo administrativo do prefeito. Ele gostava de se cercar de amigos íntimos, de extrema confiança.
O empresário Sérgio Gomes da Silva, por exemplo, era de máxima confiança. Foi apresentado ao prefeito por Marilena, mulher de seu irmão mais novo, Bruno Daniel. Corria o ano de 1988, Celso estava em campanha para prefeito e queria ter um esquema de segurança. Sérgio era versado em artes marciais, conhecia muita gente na área e montou uma equipe para o candidato. Eleito, Celso lhe deu a coordenação da guarda municipal e da defesa civil. Sérgio foi ganhando a intimidade do chefe e cresceu dentro da prefeitura. Logo estava pilotando os chamados "projetos matriciais", iniciativas que envolviam diferentes secretarias. Isso significa que era poderosíssimo, pois estava encarregado de cobrar os secretários, motivo pelo qual todos o chamavam de "Sérgio Chefe". Marilena, a mulher de Bruno, que havia sido nomeada secretária de Educação, largou a Pasta após uma divergência com o prefeito. O relacionamento entre os dois irmãos, que eram muito próximos, ficou estremecido. Sérgio de certa maneira ocupou o espaço vago, tanto que muitos dos amigos comuns a ambos definem a relação dos dois como fraterna. Ele ficou tão íntimo da turma do Boulevard que se tornou sócio de Celso, Maurício Mindrisz e Miriam Belchior numa empresa de consultoria. Esteve próximo às atividades políticas de Celso até 1996, quando fez um novo amigo, Ronan Maria Pinto, e entrou em sociedade com ele em três empresas de ônibus. Além disso, Sérgio tornou-se consultor de Ronan na área de coleta de lixo, atividade pela qual os petistas nutrem uma curiosa atração. Juntos, ambos prestaram vários serviços à prefeitura de Santo André durante os mandatos de Celso Daniel.
O Ministério Público de Santo André detectou irregularidades em vários desses contratos, e os investiga até hoje. Os rendimentos declarados de Sérgio Gomes se multiplicaram por dez entre 1996 e 2000. Enquanto o "Sombra" enriquecia, Celso Daniel também fazia um novo amigo. Arquiteto nascido no Maranhão, Klinger Luiz de Oliveira Sousa foi aluno do prefeito, que também era professor, na pós-graduação da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Acabou guindado ao cargo de secretário de Administração quando o prefeito se elegeu para o seu segundo mandato, em 1996. Corriam rumores de que Celso preparava Klinger para ser seu sucessor.
Não há indícios de rachas na "Turma do Boulevard" que sustentem a tese de que o prefeito, indignado com o esquema de corrupção, tenha brigado com seus até então fiéis colaboradores. Se alguma divergência houve, acabou em esfiha. Em janeiro de 2002, uma semana antes do crime bárbaro, Celso resolveu ir ao restaurante Arabia, em São Paulo, para comemorar sua indicação a coordenador da campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva, que considerava o ápice de sua carreira política. Convidou três companheiros petistas para o evento. O primeiro era Sérgio Gomes da Silva. O segundo, Klinger Luiz de Oliveira Sousa. E o terceiro... Bem, o terceiro será revelado no próximo capítulo.
II MISTÉRIO
Qual a real participação de José Dirceu
e Gilberto Carvalho no esquema de
corrupção da prefeitura petista?

Luiz Eduardo Greenhalgh irritou a família de Celso Daniel ao insistir na versão de crime comum. Gilberto Carvalho (ao centro) e José Dirceu foram apontados pelos irmãos do prefeito assassinado como integrantes do esquema de corrupção
No dia 24 de maio de 2002, apresentou-se ao Ministério Público de Santo André uma testemunha que pediu para não ser identificada. Ela aparece nos autos do processo com o nome de "Testemunha Número Um". Diante de quatro promotores, o depoente, que declarou ser pessoa próxima do prefeito, disse ter conhecimento do esquema de caixinha denunciado por Rosângela Gabrilli. Endossou o nome dos coordenadores: Sérgio, Klinger e Ronan. A partir daí, fez acréscimos bombásticos. Segundo a Testemunha Número Um, Gilberto Carvalho, um dos homens mais próximos de Lula na burocracia petista, sabia do esquema. Mais do que isso. Gilberto Carvalho teria dito à Testemunha Número Um que ele próprio teria sido por diversas vezes o portador do dinheiro da caixinha, que entregava pessoalmente ao presidente do partido, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.
Um mês depois, em junho, a Testemunha Número Um assumiu sua identidade. Tratava-se de João Francisco Daniel, o irmão mais velho do prefeito. Na ocasião, vários cardeais petistas – entre eles o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, escalado pelo partido para acompanhar o caso – vieram a público desqualificar João Francisco, dizendo que ele estava a serviço da "direita" e que era brigado com o irmão. Contra esse argumento, o irmão do prefeito lembrou a VEJA que, meses antes do seqüestro, ele próprio, João Francisco, Celso e respectivas mulheres haviam viajado juntos para a Itália, de férias. Recentemente, João Francisco contou a mesma história envolvendo Gilberto Carvalho e José Dirceu à CPI dos Bingos. Em outro depoimento à mesma CPI, o irmão mais novo de Celso, Bruno, endossou a versão. De acordo com João Francisco, Miriam Belchior, a primeira mulher do prefeito, também sabia da história em seus detalhes.
Ex-seminarista e ligado à esquerda católica, Gilberto Carvalho foi um dos fundadores do PT no Paraná. Quando saiu de seu estado natal, ocupou várias funções na burocracia do partido, em geral diretamente ligadas a Luiz Inácio Lula da Silva. Por essa razão, quando Celso Daniel o nomeou secretário de Comunicação de sua prefeitura, ele foi visto pela turma do Boulevard como um enviado especial do próprio Lula ao ABC paulista. Era atípico Celso escolher colaboradores fora do círculo de seus amigos mais próximos. Gilberto, no entanto, se adaptou bem. Tornou-se próximo não apenas de Celso Daniel, mas também de Sérgio Gomes da Silva e Klinger Luiz de Oliveira Sousa, que os irmãos de Celso apontam como os chefões da corrupção. Naquela noite no restaurante Arabia em que Celso comemorava sua ascensão a coordenador de campanha no PT, Sérgio, Klinger e Gilberto Carvalho brindaram com ele. "Acho uma injustiça dizerem que Celso brigou comigo porque soube de algum suposto esquema. Éramos muito próximos até o fim da vida, e se alguém saiu extremamente prejudicado dessa história fui eu", disse Klinger a VEJA. A reportagem da revista tentou confirmar o encontro no restaurante com Gilberto Carvalho, mas ele não retornou as ligações. Além dele, Miriam Belchior e José Dirceu também foram procurados. Informados do assunto que seria tratado, não atenderam à reportagem de VEJA.
III MISTÉRIO
Por que o Ministério Público e a
Polícia Civil chegaram a conclusões
tão diferentes sobre o caso?
Miriam Belchior (à esquerda), ex-mulher de Celso Daniel, também sabia da roubalheira em Santo André, de acordo com os dois irmãos do prefeito, o professor Bruno Daniel (ao centro) e o médico oftalmologista João Francisco Daniel (à direita)
Bruno Daniel é o irmão mais novo de Celso. Eles freqüentaram simultaneamente a Escola de Engenharia Mauá, em São Bernardo do Campo, iniciaram juntos a militância no PT (o mais velho dos irmãos, João Francisco, preferia ficar longe de política) e iam constantemente ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo, para assistir a jogos do Corinthians. Sempre foram muito próximos. O assassinato de Celso traumatizou Bruno. Entre as mágoas que guarda do episódio, uma se destaca: a que nutre pelo deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, o qual teria tentado abafar, a todo custo, os rumores de que o crime contra Celso Daniel teria motivação política. É importante lembrar aqui que, no enterro do prefeito, o então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso emocionado, em que disse: "Esse crime não foi coincidência. Tem gente graúda por trás disso, e nós vamos descobrir quem é". Dois meses depois, ninguém mais no PT queria saber de apurar o crime. Greenhalgh, destacado pelo partido para acompanhar o caso, tentava convencer a família a não aprofundar as investigações. "Para mim houve um acordo entre PT e PSDB nas vésperas das eleições. Certamente o PT temia que a apuração sobre a morte do meu irmão revelasse mais corrupção, e acertou com o PSDB um abafamento do caso, em troca de silêncio sobre possíveis falcatruas dos tucanos. O Greenhalgh, uma pessoa em que eu confiava, comprou essa versão e tentou vendê-la a nós", disse Bruno a VEJA.
A teoria do irmão de Celso ganhou corpo por causa do próprio silêncio da Polícia Civil do Estado de São Paulo, que durante muito tempo se negou a dar entrevistas sobre o caso. A verdade, no entanto, é que a investigação foi, sim, tratada como prioridade dentro da instituição. Para apurar o assassinato de Celso Daniel, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa destacou um de seus quadros mais experientes, o delegado Armando de Oliveira Costa Filho. Ele entrou no caso em 21 de janeiro, dois dias depois da morte do prefeito. Formou uma força-tarefa com 33 investigadores, seis delegados e cinco escrivães. Sua primeira suspeita era um homicídio encomendado. Mirando nessa direção, enviou detetives a Santo André e às faculdades nas quais o prefeito dava aulas, a Fundação Getulio Vargas e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Não achou nenhum inimigo que pudesse ser considerado um suspeito forte. Os boatos de que havia sido crime passional também foram descartados por falta de fundamentação. Havia indícios de que o prefeito fosse homossexual e mantivesse um relacionamento com Sérgio Gomes da Silva. O delegado Armando recebeu a informação, vinda do médico-legista, de que Celso era realmente bissexual, mas considerou esse dado irrelevante pelo fato de o prefeito ter uma namorada firme – Ivone – e por nada apontar para outro relacionamento estável, com homem ou com mulher, no mesmo período.
A hipótese de homicídio encomendado começou a ser descartada em 7 de fevereiro de 2002, quando a polícia prendeu José Édison, um dos bandidos da quadrilha que seqüestrou Celso. Em seu depoimento, ele contou que a intenção era seqüestrar um comerciante da Ceasa paulistana. Seguiram-no na noite do dia 18, mas o perderam de vista. Para não voltarem para casa de mãos abanando – haviam roubado dois carros para o crime –, eles resolveram escolher outra vítima aleatoriamente. Foi quando passou a vistosa Mitsubishi Pajero a bordo da qual Sérgio Gomes da Silva e Celso Daniel voltavam a Santo André depois de um jantar no restaurante Rubaiyat, em São Paulo. Os bandidos renderam o carro. José Édison contou à polícia que, pelo biotipo de Sérgio Gomes, pensaram que se tratasse do motorista. No banco do carona, Celso Daniel, alto e branco, parecia um empresário. Partiram, assim, para o seqüestro que acabou desembocando na morte do prefeito. O bandido afirmou que ele e seu bando resolveram assassinar Celso Daniel depois de o identificarem como prefeito de Santo André. Ficaram com medo da perseguição implacável que sofreriam por parte da polícia. O delegado Armando e sua equipe prenderam os outros integrantes da quadrilha da favela Pantanal, que confirmaram a história. "Perícia, impressões digitais, tudo batia. Depois veio o Ministério Público, que não entende nada de investigação, e disse que o trabalho era malfeito. Isso é um absurdo", queixou-se o delegado a VEJA.
O caso foi reaberto por pressão dos irmãos de Celso Daniel, que conseguiram que o Ministério Público de Santo André, encarregado da questão da corrupção na prefeitura, passasse a investigar também a morte. Como ocorreu no que se refere à Polícia Civil, foi destacada uma elite de procuradores: Roberto Wieder, Amaro Thomé e José Reinaldo Carneiro, familiarizados com investigações complicadas de desvio de dinheiro. O ponto de partida deles era justamente o laudo do legista Carlos Delmonte Printes, que acusava a tortura. Havia manchas vermelhas em várias partes do corpo do prefeito assassinado, provavelmente produzidas por agressões com o cano do revólver. Havia também uma contusão no crânio. O cadáver de Celso Daniel fora encontrado atravessado na estrada. O prefeito vestia apenas uma cueca, colocada ao contrário. No código dos bandidos, isso poderia significar traição. Essa interpretação dos promotores foi reforçada pelo fato de Celso Daniel ter levado um tiro no rosto, o que poderia ser indício de vingança – matar alguém desfigurando-lhe a fisionomia é sinal de humilhação no mundo do crime organizado.
Os promotores passaram a suspeitar que podia haver algo mais do que crime comum. A possível conexão entre a corrupção na prefeitura petista e o assassinato, no entanto, só apareceria mais tarde. "Demos uma virada no caso, e a polícia se negou a investigar para não admitir que fizera um péssimo trabalho", acusou o promotor José Reinaldo Carneiro – o mesmo que, recentemente, denunciou o escândalo de arbitragem no Campeonato Brasileiro de Futebol. A virada seria o depoimento de um outro bandido, Ailton Alves Feitosa. Ele é até hoje o maior indício de que as duas tramas da história policial – assassinato e corrupção – podem estar de alguma forma interligadas.
IV MISTÉRIO
Existe alguma relação entre as
sete mortes ligadas ao caso?
Celso Daniel: revelações de sua diarista provocaram uma virada no caso. De acordo com ela, o prefeito morto guardava sacos de dinheiro debaixo de um lençol.

O legista Delmonte: seus superiores o proibiram de dar entrevistas quando ele começou a defender a tese de que Celso Daniel havia sido torturado.

Na sexta-feira passada, a Polícia Civil e o Ministério Público finalmente concordaram em alguma coisa relacionada ao caso Celso Daniel. Ambos trabalhavam com a hipótese de que o legista Carlos Delmonte Printes havia se suicidado. Na véspera, a polícia defendia a tese de morte natural por ataque cardíaco ou problemas pulmonares. A perícia do Instituto Médico Legal, no entanto, descartou causas naturais. As vísceras de Delmonte, assim, foram encaminhadas para um exame toxicológico. De acordo com a família, o legista andava deprimido com a morte de um filho e a doença grave de outro. Mais um indício de suicídio foi a carta que o médico deixou com um terceiro filho, na qual especificava detalhes sobre o próprio enterro e autópsia e listava números de contas bancárias e respectivas senhas. Na tarde de quarta-feira, o legista foi encontrado morto no chão de seu escritório no bairro paulistano de Vila Clementino. Na ocasião, ele estava de cuecas.
A morte de Delmonte é a sétima relacionada ao caso. Dos outros seis mortos, pelo menos três poderiam dar uma virada nas investigações. O mais importante era o bandido Dionísio Aquino Severo, um dos seqüestradores de Celso Daniel. Na manhã de 17 de janeiro de 2002, dois dias antes da ação criminosa, Dionísio e mais dois amigos protagonizaram uma fuga espetacular. Eles tomavam sol no pátio do presídio Parada Neto, em Guarulhos, quando um helicóptero apareceu e os resgatou. Só não foi mais cinematográfico porque os guardas do presídio não reagiram. Estavam, como se diz no jargão dos bandidos, com "os fuzis entupidos" – ou seja, haviam recebido propina para facilitar a fuga. Quem teria pago? Teria sido Dionísio, libertado propositalmente para que seqüestrasse Celso Daniel? Pelo menos uma pessoa acreditava nessa hipótese: o delegado Romeu Tuma Júnior, titular na ocasião da delegacia seccional de Taboão da Serra, sob cuja jurisdição estava a cidade de Juquitiba, município onde o corpo foi encontrado. Sondagens feitas por seus investigadores davam conta de que o helicóptero utilizado na fuga havia sido alugado na região do ABC. Quando passou a investigar a conexão, Tuma começou a receber ameaças de morte. Os recados vinham da parte do próprio Dionísio. Três meses mais tarde, o bandido seria preso em Maceió, onde tentava assaltar um banco. No dia 8 de abril foi levado ao delegado Tuma. Disse que sabia muito sobre o caso, mas só falaria se fosse possível negociar "condições especiais". Não teve tempo para isso. Foi assassinado dois dias depois dentro do presídio do Belém, em São Paulo. Dois dos outros mortos guardavam relação com Dionísio. O primeiro era o bandido Sérgio "Orelha", que escondera Dionísio logo depois da fuga do presídio. O outro, Otávio Mercier, investigador da Polícia Civil que procurava Dionísio depois da fuga e teria chegado a fazer um contato com ele por telefone. Ambos morreram assassinados a tiros.
Antônio Palácio de Oliveira, garçom que serviu o último jantar de Celso Daniel no restaurante Rubaiyat, morreu quando, perseguido por dois homens, espatifou sua motocicleta num poste. Paulo Henrique Brito, testemunha que poderia ajudar a esclarecer as circunstâncias do acidente com o garçom, foi assassinado com um tiro vinte dias depois. A penúltima morte relacionada ao caso foi a de Iran Moraes Redua, o agente funerário que reconheceu o corpo de Celso Daniel, jogado numa estrada de terra em Juquitiba. Redua foi assassinado a tiros em novembro de 2004.
É duvidoso que o legista Carlos Delmonte Printes soubesse algo além do que já havia dito – ele recentemente participou de dois programas de entrevistas da Rede Globo. Em agosto deste ano, Printes deu um depoimento a Roberto Wider e Amaro Thomé Filho, promotores de Santo André envolvidos com o caso, no qual disse que passou dois anos proibido de falar sobre o assunto pelo superintendente da Polícia Científica de São Paulo, Celso Perioli, e pelo diretor do Instituto Médico Legal, José Jarjura. No ano passado, em plena vigência da mordaça, VEJA conseguiu falar com Carlos Delmonte Printes numa entrevista à qual compareceram outros integrantes da Polícia Civil. Sob a vigilância de seus superiores, Delmonte deu uma versão intermediária sobre o caso. Celso Daniel havia sido torturado, sim, mas isso não significava necessariamente que se tratava de crime político, pois existem bandidos comuns que matam com requintes de sadismo. A revelação mais impressionante que fez na ocasião – e que repetiu no depoimento de agosto aos promotores de Santo André – foi a de que o corpo de Celso Daniel, a pedido dele, havia sido embalsamado. A intenção era que o cadáver pudesse ser exumado no futuro. A ação esteve a cargo da equipe do Aeroporto de Cumbica, especializada em embalsamamento de corpos para traslados internacionais. Carlos Delmonte Printes acreditava que muita coisa ainda viria a ser descoberta sobre o caso, e um novo exame do cadáver poderia fornecer revelações adicionais (o legista confirmou também que Celso morrera no sábado 19, e não no domingo 20, como está no túmulo do prefeito reproduzido na capa de VEJA).
Sete mortes depois, resta como testemunha mais importante Aílton Alves Feitosa, um dos companheiros de Dionísio Aquino Severo na fuga do presídio Parada Neto.
V MISTÉRIO
Qual a relação entre o assassinato e
o esquema de propina em Santo André?
Quando convidou Dionísio para jogar bola no pátio da cadeia num dia de céu azul, Feitosa ouviu do amigo: "Hoje o dia está propício para voar". Achou que o colega andava meio estranho e foi para o futebol. Minutos mais tarde, os dois times ficaram estarrecidos ao ver um helicóptero pousar no pátio da cadeia e resgatar Dionísio. Ele próprio, Feitosa, ficou mais surpreso ainda – de forma agradável – quando o companheiro gritou seu nome, chamando-o para fugir com ele. Foi essa a história que ele contou ao Ministério Público de Santo André em setembro de 2002. O mais grave de seu depoimento viria depois. Fugido da cadeia, Feitosa ficou escondido na casa de dona Dete, tia de Dionísio, e teria ouvido conversas dele com seus comparsas no seqüestro de Celso Daniel. Eles falavam que estava tudo pronto para levar o "peixe grande". Que o empresário que iria acompanhá-lo sabia de todo o plano e iria facilitar a ação. Que a perseguição, as colisões e os disparos na Pajero seriam apenas para "fazer a cena" – afinal, todos sabiam que o carro era blindado e ninguém em seu interior corria riscos. Que a morte do "peixe grande" seria uma "queima de arquivo". Que Dionísio havia sido resgatado do presídio para realizar uma série de operações criminosas, e que a principal delas seria justamente esse assassinato. Era fácil legendar a história. O empresário seria Sérgio Gomes da Silva, e o "peixe grande", Celso Daniel. Depoimentos posteriores de parentes e amigos de Dionísio e Feitosa confirmaram vários pontos da versão do segundo. Num dos depoimentos, Dionísio aparece como mentor da quadrilha, à qual ele se referia carinhosamente como "timinho de Diadema". Num depoimento, a mulher de Dionísio cita o "Sombra" como financiador da operação.
Foi com base principalmente nesse depoimento que Sérgio Gomes da Silva teve sua prisão preventiva decretada em dezembro de 2003, na condição de elemento de alta periculosidade. Klinger e Ronan escaparam por pouco. Quase foram condenados pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em junho do ano passado. De três desembargadores, dois votaram a favor da prisão e um pediu vistas ao processo. Na segunda votação, um dos desembargadores mudou de idéia e eles se salvaram. Em julho do ano passado, Sérgio Gomes da Silva também foi solto. O juiz achou que não havia provas suficientes de que ele fosse o mandante do assassinato. De lá para cá, os personagens do caso Celso Daniel continuam levando vida normal. Quase todos eles, como José Dirceu, Gilberto Carvalho, Miriam Belchior, Maurício Mindrisz, Ronan Maria Pinto, Klinger Luiz de Oliveira Sousa e o próprio Sérgio Gomes da Silva, continuam participando de governos do PT, próximos ao PT ou fazendo negócios com o PT. Na semana passada, um relatório do Conselho de Defesa da Pessoa Humana, órgão ligado ao Ministério da Justiça, recomendou que se reabrisse o caso Celso Daniel. O parecer provocou ira no governo.
No Cemitério da Saudade, em Santo André, jaz um corpo embalsamado.


Veja.com (19/10/2005)


NÓS, OS NOSSOS PRINCÍPIOS E ELES

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/nos-os-nossos-principios-e-eles/

quarta-feira, 2 de junho de 2010 | 5:39

Preparados para um texto longo? Um daqueles que chamo de “Textos de Formação”? Então vamos lá, queridos! Escrevo o que é, para mim, um dos posts mais importantes desde que este blog existe. Porque ele vai lidar com princípios e com a razão mesma de existirmos.
*
A IMPRENSA
O noticiário da grande imprensa no Brasil sobre o caso da tal “ajuda humanitária”, embora oficialmente neutro, é abertamente anti-Israel — e seria em qualquer caso, ainda que os soldados das Forças de Segurança tivessem abordado os barcos lendo a parte amorosa dos Salmos, o que não quer dizer que Israel tenha colhido os melhores frutos da ação. Já chego lá. Vou, antes, falar um pouco mais sobre imprensa e, se me dão licença, sobre este blog.

Já tiramos algumas coisas da quase clandestinidade aqui para iluminar o debate, não é mesmo? Dou dois exemplos já históricos: a Constituição de Honduras, aquela que ninguém tinha lido antes de chamar golpista de democrata e democratas de golpistas. Ou, então, o Plano Nacional-Socialista de Direitos Humanos, que extinguia a propriedade privada e definia como norte ético a censura à imprensa.

Anteontem, no primeiro post que escrevi sobre aquela infelicíssima ocorrência da flotilha, eu lhes apresentei e à imprensa brasileira Bülent Yildrim, o chefão da ONG turca IHH, a verdadeira organizadora da trágica patuscada “humanitária”. Na apresentação que fiz, ele aparecia ao lado do terrorista do Hamas Ismail Haniya. O jornalismo de TV, ao menos, já descobriu que a IHH existe e que era ela a verdadeira organizadora das naus dos insensatos. O impresso, no Brasil, talvez demore um pouco mais já digo por quê.

Só a imprensa brasileira foi lenta? Não! Só ontem à noite, acreditem, o New York Times (!) informou que a tal organização turca havia tornado viável a operação. O texto está na edição impressa de hoje. A fala de um dos dirigentes da entidade é absolutamente eloqüente e fornece um dos dois assuntos principais deste artigo. Informa o jornal que a IHH estava celebrando um estranho sucesso: “Nós nos tornamos famosos”, afirmou Omar Faruk, um dos membros da Insani Yardim Vakfi, conhecida por “IHH”. Ele parou por aí? Não! Ele continuou: “Nós estamos muito gratos a Israel”.

Pelo menos nove pessoas morreram na operação, mas Faruk, que dirige uma organização que se quer “humanitária”, está muito grato! Acho que isso define, de modo eloqüente, o caráter da IHH e o que queriam muitos daqueles “humanistas” que se dirigiam a Israel — se não os bobalhões que se arriscaram, ao menos os que dirigiram a operação.

Não! Não sou o Lula dos blogs e não vou me jactar de ter furado o New York Times. Mas vocês sabem quem primeiro tirou Yildirim da sombra. A razão é simples: desconfio de quem participa de flotilhas humanistas a Gaza, mas não solta um pio quando o Irã enforca opositores. E vou tentar saber quem é o quê. Alguns colunistas do jornalismo impresso ainda perguntam: “Mas para que servem os blogs?” Bem, depende, não é? Pode-se fazer a mesma pergunta sobre os jornais. Há bons e maus usos para uma coisa e outra. A marca distintiva dos blogs tem sido a pluralidade, que está em extinção na chamada grande imprensa — fica para outro texto. Coloquem aí outro sinal de “positivo” para esta nossa pagininha, cada vez mais lida.

OS FATOS E COMO SOU
É óbvio que as pessoas que escreveram para cá me acusando de apoiar a truculência de Israel ou o assassinato de pessoas estão mentindo para seu próprio conforto. E tais comentários foram devidamente arquivados no lixo. A razão é simples: não é contestação àquilo que escrevo, mas ofensa. QUEM COMEMORA A MORTE É UM DOS CHEFÕES DA IHH. Vejam o bruto aí acima sendo “grato” a Israel, como ele diz. Por quê? PORQUE O SANGUE IRRIGA A CAUSA DESSES FANÁTICOS. O que fiz nestes dois dias, hoje é o terceiro, foi DESMONTAR A MÁQUINA DE MENTIRAS da militância. Independentemente da oportunidade da ação israelense (já falo sobre ela) e da expertise militar empregada, demonstrei que:
- os “pacifistas” atacaram os soldados:
- o objetivo da flotilha era fazer uma provocação política;
- a ação era organizada por uma ONG pró-Hamas;
- o objetivo, AGORA MAIS DO QUE CONFESSO, era criar uma comoção que transformasse Israel no bandido da história.

E isso está sobejamente demonstrado. E o fiz dando pouca trela à gritaria à volta. Essas coisas nunca me assustam. Confesso que, ao notar unanimidades, algo dispara um mecanismo no meu cérebro: “Cuidado! Se ninguém se ocupa do contrário, essas pessoas cegadas pela luz da verdade se tornam fanáticas”. Até quando notórios canalhas são enxovalhados, humilhados, sinto certo desconforto. As pessoas que estão certas quase nunca são triunfalistas sobre a sua verdade. É a forma que a máxima terenciana (do latino Terêncio) tomou em mim: “Sou homem, e nada do que é humano é estranho a mim”. A propósito: meu avô materno se chamava “Terenciano” — homenagem ao autor.

Isso não quer dizer que não partilhe, jamais, de nenhuma unanimidade. Às vezes, sim. Mas procuro ser sempre prudente e submeter as verdades a algum crivos da lógica. É claro que aquele colunista pançudo que quer fichar os 5% que não acreditam na divindade de Lula não vai compreender isso jamais. Coitado! Deve ter passado boa parte da vida tentando acreditar em alguma coisa. Encontrou bons motivos para se ajoelhar no altar do Babalorixá de Banânia. Debato duro, sim, mas não tenho sede de extermínio. Que o outro fique de pé.

Assim, dediquei-me, nestes dois dias, a desmontar a boçalidade antiisraelense que pauta a maior parte da imprensa brasileira, pouco importa o que Israel faça. Se o país tivesse permitido que a flotilha entrasse em suas águas territoriais para, só então, fazer a abordagem — e por mais bem-sucedida que ela tivesse sido —, a reação seria a mesma. As apresentadoras e apresentadores de telejornais continuariam a dizer o adjetivo “hu-ma-ni-tá-ria” assim, escandindo sílabas, como se a palavra ganhasse especial sentido e como se a IHH, aquela grata pelas mortes, deixasse de ser a organizadora do ato.

ACONTECEU O PIOR
O tal Omar Faruk, como vimos acima, comemorava ontem a tragédia, dizendo-se grato a Israel. Não por nada! Ainda que houvesse uma pessoa do movimento infiltrada no comando que decidiu aquela forma de abordagem, com as conseqüências que vimos, o resultado não poderia ter sido mais exitoso para os inimigos do país e, se querem saber, para os inimigos do Ocidente.
- os israelenses saem com a fama de truculentos:
- as relações do país com a Turquia, seu aliado de maioria islâmica, estão profundamente abaladas;
- a propaganda anti-Israel ganhou o mundo;
- o Hamas sai moralmente fortalecido;
- os esforços dos EUA para condenar o Irã no Conselho de Segurança da ONU estão seriamente prejudicados;
- os patrocinadores daquele acordo vigarista com os iranianos, Brasil e Turquia, aproveitam o momento para caracterizar Israel como o verdadeiro inimigo da paz no Oriente Médio.

Em suma, ao abordar os barcos em águas internacionais e fazer uma intervenção militarmente desastrada como aquela, o que acabou resultando na morte de nove pessoas, Israel realizou tudo o que seus inimigos esperavam: ditaram a coreografia, e suas forças de segurança a executaram com o rigor do autoflagelo. E noto à margem para que não reste dúvida: os militares reagiram, sim, às tentativas de linchamento. Os vídeos e os soldados feridos são evidências inequívocas.

Isso não quer dizer, no entanto, que a operação militar não tenha sido desastrada. Não estou entre aqueles que acreditam que Israel apostasse que havia armas na embarcação. Se assim fosse, não teria tentado aquela intervenção, desembarcando meia-dúzia de soldados em meio a centenas de militantes. A idéia foi mesmo fazer a intervenção para forçar a frota a mudar de rumo, sem atentar, tudo indica, para o risco de que acontecesse o que aconteceu: os “pacifistas” partitiram para cima dos militares, o que gerou a resposta conhecida, os mortos, a indignação internacional…

Fez-se o melhor? Não, é evidente! Em águas territoriais israelenses — para fugir à caracterização de uma ação ilegal —, Israel poderia ter usado a sua Marinha para impedir a chegada dos barcos a Gaza, o que, com efeito, é ilegal, e o país tem o direito internacional de assegurar a sua soberania — ponto final. Apanharia, reitero, do mesmo modo, mas não teria fornecido pretextos tão VEROSSÍMEIS QUANTO FALSOS para caracterizar uma luta de algozes contra vítimas.

A operação desastrada pode ser um sinal de alguma degeneração na área de segurança, decorrência da radicalização de posições, de modo que a ação estava destinada a ser uma espécie de demonstração de força e acabou resultando num desastre? É bem possível. O próprio governo de Israel reflete hoje, vamos dizer assim, a intolerância com o que seria, sem jogo de palavras, a ineficiência da tolerância. A população foi às urnas e votou por menos concessões aos palestinos, não por mais. E o governo de Israel parece um tanto conformado, o que é um erro, com uma possível constatação: “Muito bem! Se o mundo não quer compreender, que não compreenda. Seguiremos o nosso caminho”.

Israel ganhou guerras memoráveis, inclusive aquelas em que estava em inferioridade militar. Mas há muito tempo tem sido derrotado na batalha da comunicação. Isso requer, sei lá, mais uma centena de textos. É claro que se pode indagar por que os milhões de mortos da África subsaariana, os milhares de curdos ou os quase 400 mil cadáveres da Darfur não mobilizam o mundo; é claro que se pode indagar por que ninguém dá bola para o regime de semi-escravidão da Coréia do Norte; é claro que se pode indagar por que uma flotilha jamais seria organizada para levar solidariedade aos perseguidos do Irã… Que os inimigos de Israel — atenção: INIMIGOS CONTRÁRIOS À EXISTÊNCIA DO ESTADO — são fortes, ricos e organizados, isso é inequívoco.

O esforço a ser feito não é só de opinião pública. Tudo o que os terroristas do Hamas querem é evidenciar uma suposta equivalência moral entre a democracia israelense e sua estupidez fundamentalista. Basta ler os estatutos do grupo para saber por que é impossível negociar com eles — aliás, é o que pensa também Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Nacional Palestina. Israel precisa voltar a se empenhar num plano de paz para valer. E tomar a dianteira nesse processo. Isso vai aplacar a sede de seus inimigos? Pouco importa! Fazê-lo não implica se descuidar das medidas de segurança. Nem israelenses nem palestinos vão sair de onde estão. Têm e terão de conviver. E pessoas precisam parar de morrer por isso, eternidade afora.

ADORADORES DA MORTE
Não serão seis naus lotadas de insensatos a pôr fim ao bloqueio de Gaza. Evidentemente, não é uma boa maneira de tentar convencer Israel. E chega a ser estúpido que ONU, Brasil ou Grã-Bretanha cobrem o fim do bloqueio justo agora, quando uma pantomima terceirizada do Hamas tenta um ato de pura propaganda. Ademais, chega a ser patético que se cobre tal medida de Israel quando o Egito aplica, em terra, a mesma política — e para conter o mesmo grupo: o Hamas.

O bloqueio não existe porque os israelenses são perversos, e o governo de Gaza, um grupo de seres angelicais. Ele existe para conter a chegada de armas para o Hamas. Já chegou a ser suspenso, diga-se, e Israel tomou em troca uma chuva de mísseis, DIANTE DO SILÊNCIO CÚMPLICE DO MUNDO. Verdade ou mentira? Ou não cabe indignação quando Israel é vítima de ataques?

Duas outras embarcações estão no mar e pretendem chegar a Gaza. Não vão chegar, a menos que Israel permita. E creio que não vai permitir. Não há concessões a fazer ao terrorismo do Hamas, mas é chegada a hora de retomar a conversa com a Autoridade Nacional Palestina e deixar claro em que consiste a boa-vontade israelense para se chegar à solução de “dois povos, dois estados”. É preciso cassar a suposta superioridade moral dos adoradores da morte.

Este blog, este blogueiro e seus leitores querem a paz. Só não abrem mão, nunca!, de chamar as coisas pelo nome que as coisas têm. E jamais deixarão de considerar que o governo israelense se impõe pelo voto. E os inimigos de Israel se impõem pelo terror, inclusive contra o seu próprio povo. Por isso espera maior racionalidade, o que não de vese confundir com fraqueza, de quem vem legitimado pela superioridade democrática.