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segunda-feira, 17 de maio de 2010

A felicidade da mulher na sociedade contraceptiva

via perspectivas de O. Braga em 15/05/10

Todos sabemos que a sociedade contraceptiva, que levou ao aborto legalizado, foi justificado através de uma ideia de “libertação da mulher”; em nome dessa “libertação” foi estruturada a “sociedade da contracepção”. O economista americano Timothy Reichert escreveu um artigo com o título “Bitter Pill” no site First Things, e em que o problema da contracepção é abordado não de uma forma em que “a religião se opõe à razão” — que é como os defensores da contracepção e do aborto colocam o problema, através da ideia segundo a qual “o casamento não serve para procriar” —, mas Reichert prefere colocar o problema da contracepção numa perspectiva das ciências sociais e do senso-comum. É sobre os argumentos de Reichert que irei falar neste postal.

O conceito de “libertação da mulher”, que é defendido não só pelo feminismo e pelo marxismo, mas também por uma certa direita neoliberal de fé em Hayek, tem como base a ideia de “independência” da mulher em relação à sua biologia. Trata-se, aparentemente, de uma tentativa de libertar a mulher da estrutura fundamental da realidade, alterando-a através da pílula contraceptiva e do aborto que se transformou já em um método de contracepção. Por isso, podemos dizer que o conceito de libertação da mulher é de origem gnóstica; a principal característica do gnosticismo é a tentativa de fazer escapar o ser humano das leis fundamentais da natureza. Mas deixemos a discussão em torno das ideologias e concentremo-nos em aspectos práticos.

A pergunta a fazer é: a cultura contraceptiva libertou a mulher?
Timothy Reichert diz que não, e baseia a sua argumentação em sete pontos essenciais:
  1. Declínio da felicidade da mulher;
  2. O mercado dos relacionamentos sexuais;
  3. Mais divórcio;
  4. Inflação dos custos do lar;
  5. Infidelidade;
  6. Aborto;
  7. O “dilema do prisioneiro”
O declínio da felicidade da mulher
A mulher é hoje mais feliz do que era há 40 ou 50 anos atrás? Não, diz Reichert. Vários estudos — entre eles um realizado pela universidade da Pensilvânia (Estados Unidos) — demonstraram que existe um declínio efectivo da felicidade da mulher nas sociedades industrializadas nos últimos 35 anos. Enquanto que na década de 70 do século passado a mulher tinha um grau de “bem-estar subjectivo” mais elevado do que o do homem, a situação inverteu-se e o bem-estar subjectivo passou a ser superior no homem em relação ao da mulher. Esse decréscimo da felicidade feminina coincidiu com o uso generalizado dos contraceptivos. Porém, o mais grave é que quando o bem-estar feminino decresce, este fenómeno reflecte-se imediatamente na felicidade das crianças.
O resultado dos estudos levaram Timothy Reichert a concluir que, ao contrário da retórica da revolução sexual, a contracepção é profundamente sexista na sua natureza. Ela retirou poder e riqueza à mulher em termos gerais, o que significa que fez aumentar o poder e a riqueza do homem na sociedade.
O mercado dos relacionamentos sexuais
Há cinquenta anos atrás — diz Reichert — existia um só mercado de relacionamentos sexuais, composto por homens e mulheres em números aproximados e que acabava em casamento.
Ao baixar o custo do sexo pré-marital e extra-marital (esse custo era mais alto, através da gravidez que dantes forçava o casamento, ou através das pressões sociais que há 40 anos atrás responsabilizavam o homem e o obrigava a “cumprir as suas obrigações sociais”), a contracepção permitiu o aparecimento de um novo mercado de relacionamentos sexuais. Este novo mercado, alternativo ao mercado do casamento ou da formação de família, é o mercado do sexo livre e sem responsabilidades assumidas. Se este novo mercado tivesse afectado os homens e as mulheres em igual modo e no que respeita aos números ou quantidades envolvidos de pessoas de ambos os sexos, tudo se manteria equilibrado e não haveria problemas de maior. Contudo, as quantidades de homens e mulheres dos dois mercados de relacionamentos sexuais não é igualmente proporcional.
Devido aos limites biológicos impostos pela fertilidade, a mulher tem que sair mais cedo do mercado do sexo livre do que o homem, e entrar mais cedo do que o homem no mercado do casamento — quem diz “casamento”, diz “relação estável e familiar”. Este desequilibro entre os dois mercados tem consequências na lei da oferta e procura em ambos. As mulheres mantêm a sua oferta mais rara e em menor quantidade — em comparação com os homens — no mercado do sexo livre, e uma oferta mais abundante no mercado do casamento, o que permite à mulher tirar partido de melhores “negócios” no mercado do sexo livre, mas está sujeita a piores “negócios” no mercado do casamento onde os homens casamenteiros não abundam.
Em resultado deste desequilíbrio entre os dois mercados de relacionamentos sexuais, os homens saem a ganhar e as mulheres a perder.
Mais divórcio
Os maus negócios trazem sempre maiores riscos de ruptura entre as partes nele envolvidas, do que os bons negócios. No mundo empresarial, os bons negócios trazem quase sempre consigo melhores perspectivas de futuro para as partes.
Uma redução do comprometimento sexual transporta consigo uma “procura” do divórcio ainda antes do próprio casamento. A nível social, a mulher permite, assim, que o estigma do divórcio desapareça quando se aprova o “divórcio na hora” — como é o caso da lei socialista de José Sócrates. Esta lei socialista é altamente sexista e machista, como se pode verificar pela argumentação de Reichert.
Para compensar as consequências dos dois mercados paralelos, as mulheres investem mais no poder aquisitivo (mais dinheiro), e menos nas relações familiares, na formação dos seus filhos e no activismo comunitário. Ao fazê-lo, a mulher torna-se semelhante ao homem e os casais tornam-se menos interessantes em relação um ao outro; por outras palavras, podemos dizer que, através da revolução sexual e da sociedade contraceptiva, as relações heterossexuais (entre um homem e uma mulher) foram homossexualizadas, porque as diferenças entre o homem e a mulher saem esbatidas de todo o processo de mudança cultural. Esta foi a verdadeira razão da lei do divórcio unilateral “na hora” de José Sócrates.
A semelhança entre os dois componentes do casal, decorrente da imposição feminista da “neutralidade de género”, traz consigo a uniformidade dos dois membros do casal e, consequentemente, potencia o divórcio.
Inflação dos custos do lar
Na medida em que a mulher entra no mercado do trabalho e dá menos atenção à família, o custo das casas aumentou, porque o mercado da construção de habitações se apercebeu de um maior poder de compra dos casais em que a mulher entrou no mercado de trabalho — o que teve como consequência que ainda mais mulheres entrassem no mercado de trabalho para compensar os aumentos do custo da habitação e dos meios básicos de sobrevivência.
Em resultado deste processo, aumentou a desigualdade intergeracional (a desigualdade entre novos e velhos, em que estes se tornaram incomparavelmente mais ricos do que aqueles), e instalou-se uma evolução constante e progressiva da família tradicional com filhos para a actual ausência de crianças — e em que se pode vender um apartamento por mais de 50 mil Euros em zona urbana, e uma casa por mais de 100 mil Euros. Este desequilíbrio da riqueza é largamente suportado pelas mulheres e pela sua força de trabalho, que passam a financiar o aumento dos custos das habitações e, em última análise, esse prejuízo de bem-estar da mulher estende-se às crianças que deixam de contar com o tempo e a atenção das mães.
Infidelidade
A infidelidade aumenta porque os custos a pagar por ela diminuíram. Trata-se de uma regra base no mercado dos valores: quanto menos se paga por uma coisa mais ela se torna vulgar e ordinária. O mercado do sexo livre providencia as oportunidades, e homens casados, maduros e ricos são mais atractivos às jovens mulheres do que as mulheres maduras em relação aos homens jovens. Mais uma vez, a mulher sai a perder.
Aborto
Antes da pílula anticonceptiva, o custo de uma gravidez não desejada era muitas vezes assumido pelo homem na ponta da baioneta que protegia a honra da rapariga e da sua família. Agora, esse custo da gravidez não desejada é totalmente assumido pela jovem mulher: assim como a contracepção é “coisa de mulheres”, a gravidez também passou a ser. Se ela não aborta e leva a gravidez até ao fim, ela desaproveita as oportunidades do mercado de trabalho; se ela aborta, é ela que paga os custos emocionais do acto, os custos para a sua saúde física e muitas vezes paga do seu bolso o próprio acto clínico de abortar.
A conclusão de Reichert é a seguinte e nas suas próprias palavras:
« A contracepção resultou em um enorme desequilíbrio de riqueza e bem-estar em prejuízo das mulheres e, portanto, em benefício dos homens, assim como resultou em um desequilíbrio de bem-estar entre a mulher típica da família tradicional com filhos, e a mulher actual engajada no mercado de trabalho e sem filhos.
Ademais, tendo em conta que o bem-estar da mulher determina o bem-estar dos filhos, este desequilíbrio é “financiado” pela perda de bem-estar das crianças. Por outras palavras, quanto pior está a mulher, pior estão as crianças. Em termos “líquidos”, as mulheres e as crianças são as grandes perdedoras da sociedade contraceptiva. »
O “dilema do prisioneiro”
O “dilema do prisioneiro” é um conceito teórico relativo ao jogo (um conceito lúdico), em que existe uma situação em que todas as partes intervenientes têm a possibilidade de escolher entre a cooperação e a não-cooperação. Contudo, e porque as partes não são capazes de se coordenar e escolher a cooperação, elas optam pela melhor opção individual, que é a não-cooperação.
Aplicando este conceito às jovens mulheres da cultura contraceptiva, Reichert sugere que aquelas que não entram no mercado do sexo livre perdem as oportunidades dos “altos preços” pagos nesse mercado — por outras palavras: as mulheres que recusam o mercado sexo livre não desfrutam da maior atenção dos homens, da probabilidade de arranjar companheiro, de uma sensação de bem-estar e de uma “boa” imagem. Porém, essas jovens que recusam o mercado do sexo livre acabam também por se sentir em desvantagem no mercado do casamento, porque neste existem muitas mais mulheres do que homens. A decisão preferida das mulheres é então entrar no mercado do sexo e permanecer nele o mais tempo possível, não obstante o facto de que um novo reequilíbrio do modo de vida será pior para a mulher no decurso do seu ciclo vital.
Segundo Reichert, só é possível contrariar o “dilema do prisioneiro” através de leis e valores sociais que o quebrem, leis e valores esses que não se prevêem vir a ser estabelecidos em uma sociedade controlada por uma elite decadente, corrupta e destituída de valores éticos. Por isso, Reichert é de opinião de que os valores da Igreja católica e de outras religiões devem ser melhor aproveitadas, e propõe a criação de um movimento cultural e social em prol de um “novo feminismo”.

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