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sábado, 6 de novembro de 2010

Ver como é, não como nos dizem

via Observar e absorver de Observar e absorver em 27/10/10

É preciso dar o nome devido às coisas. A forma de falar acaba criando condições mentais propícias a análises tendenciosas. Erramos o caminho do pensamento e ficamos a dar voltas, sem achar a saída.

Quando olhamos o panorama da sociedade, vemos que a “elite dirigente” formal, apresentada como o “poder”, não é o que parece ser. Observando seu comportamento, sem nos deixar enganar pela mídia, percebemos que o poder real, atual e atuante, está bem acima dessa elite, no escuro das empresas de comunicações e do aparelho do Estado. A verdadeira elite dirigente não é eleita pelo voto, ao contrário, elege seus subordinados e, através deles, indica outros subordinados para os cargos chave, dentro da administração estatal. Considera seu o que é de todos, monopoliza a atenção e os privilégios que o Estado pode lhes oferecer. Dispõem das verbas públicas com a naturalidade de quem usa o que é seu, por direito de nascimento ou conquista financeira.

A chamada “elite dirigente” não passa, na verdade, de uma elite de gerentes. Vê-los abanando o rabinho para mega-empresários e representantes de gigantes transnacionais é uma bofetada na cara do cidadão.



Andamos pelas ruas recebendo multidões de recados, explícitos e subliminares, dizendo que nos amam, fazem tudo pelo nosso bem estar, que essa é a maior razão de sua existência, tudo "especialmente para você", com sorrisos, gestos, cores, imagens e sons sedutores, acenando com possibilidades de destaque e consideração social, prêmios por se deixar convencer e desejar o que oferecem. Tudo com o único objetivo de nos fazer consumir o que não precisamos. Para vincular a felicidade ao consumo.

Se entramos num "chópim" a coisa se torna ridícula, absurda, caricata, uma ofensa à inteligência. Mas de tal maneira bem elaborada, de tal amplitude e profundidade é o trabalho de condicionamento cotidiano neste sentido, que se pode ver nos olhos das pessoas o brilho da avidez, da necessidade de comprar, de ter, de consumir. Tornam-se fanáticas pelo consumo. Produzem angústias profundas, amargam tristes frustrações, obtêm efêmeras alegrias, superficiais demais para sanar a insatisfação do espírito humano.

“A massa sustenta a marca. A marca sustenta a mídia. E a mídia controla a massa.”
                                                                                                                                                                      George Orwell

A marca controla o Estado, eu poderia dizer. Mas fica despersonalizado. Os donos das mega-empresas, os grupos de empresários mais ricos, donos de terras, de indústrias, são esses os que mandam, controlam, criam valores, distorcem a realidade, interferem no ensino, nas decisões do Estado em qualquer das suas instâncias. Atacam populações, comunidades, etnias, tudo o que esteja no caminho dos lucros absurdos a que se acostumaram.

Se a minha visão é simplista, é porque a realidade é simples assim. Claro que virão acadêmicos laureados, especialistas, analistas, com uma linguagem rebuscada, provando que a coisa é muito mais complexa, não é bem assim, e mais isso e aquilo. Mas eles não me enganam. A sociedade é essa barbárie, na vida da maioria (alguns privilegiados nem acreditam nisso), por uma questão de egoísmo, orgulho, soberba de uma minoria que não alcançou, ainda, o patamar humano. E também por um minucioso trabalho de ignorantização, nas escolas, e de idiotização, pela mídia, que é acolhido, assimilado e exercido pela grande maioria, que inclui os mais sacaneados da coletividade desarmada de instrução, informação e senso crítico, desarmada de cidadania.

Todos temos nossas responsabilidades, ninguém está isento. Mesmo os mais engajados, os mais ferrenhos lutadores por mudanças reais na estrutura social. A diferença destes é que exercem sua responsabilidade humana, cada um à sua maneira, como o professor que dá tudo de si no ensino e na formação de seus alunos, mesmo sabendo que a estrutura de ensino não permite um grau aceitável de assimilação. Como o médico que atende com amor, mesmo em condições de trabalho horríveis.

Eu, de minha parte, ponho tudo o que posso no meu trabalho. Consumo só o que me é realmente necessário. Nem entro em chópincenter, que aquilo é um insulto à minha humanidade. E duvido de tudo que a mídia diz – falou mal, deve ser bom, falou bem, deve ser mau.

Eduardo Marinho, 16/10/10              

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